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Estatística subestima deficit público, diz
ex-presidente do BC
Rombo em contas é maior quando usados os mesmos critérios de países desenvolvidos
GUSTAVO PATU
DE BRASÍLIA
A real dimensão do desequilíbrio das contas do governo é mascarada pela metodologia adotada no país
para apurar o deficit público,
diz estudo assinado pelo economista Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central
no governo FHC.
Se calculado por critérios
do mundo desenvolvido, o
deficit de União, Estados e
municípios chegaria no ano
passado ao equivalente a
12% do PIB, segundo o trabalho. As estatísticas oficiais
apontam deficit modesto, de
2,55% do PIB, em 2010.
O estudo -uma versão
preliminar, ressalva o autor- foi preparado para o seminário "A taxa de juros no
Brasil", promovido anteontem em São Paulo pelo CLP
(Centro de Liderança Pública) e pela Casa do Saber.
Franco associa a anomalia
dos juros brasileiros, desde
os anos 90 entre os mais altos
do mundo, a um desequilíbrio nas contas públicas, que
passa despercebido porque a
contabilidade nacional considera as despesas com juros,
mas não amortizações da dívida pública.
As amortizações estão fora
da conta desde os tempos da
superinflação, quando o governo tinha de trocar diariamente os títulos de sua dívida. Como a compra de um papel equivale contabilmente a
uma amortização, a prática
inflava e distorcia os números do deficit.
Para o economista, a metodologia que escolheu é "imperfeita e enviesada como de
resto todas são", mas chama
a atenção para o problema
dos prazos ainda muito curtos da dívida pública.
"Os governos preferem
versões adocicadas dos problemas que realmente têm e
relutam em reconhecê-los
em sua verdadeira dimensão. Sem esse reconhecimento, porém, prevalece a noção
de que não há nada a fazer
nesse terreno."
Entre os cinco debatedores
do seminário -Franco, André Lara Resende, também
da equipe do Plano Real, Luiz
Gonzaga Belluzzo, da Unicamp, Yoshiaki Nakano, da
FGV, e Samuel Pessoa, da
consultoria Tendências-
houve quase consenso em
atribuir os juros recordes do
país à fragilidade fiscal.
Se houve convergência no
diagnóstico, os presentes
não pareceram confiantes na
viabilidade política das alternativas de tratamento.
Belluzzo defendeu que o
governo busque um superavit nominal. Hoje só há superavit primário, ou seja, sem
considerar os encargos com
juros da dívida.
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