São Paulo, quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

ANÁLISE

Ciclo de expansão dos gastos e ajuste deveria ser abolido

SÉRGIO VALE
ESPECIAL PARA A FOLHA

A mesma equipe que acredita na força da política fiscal para ajudar a economia a crescer agora apresenta um pacote de ajuste fiscal.
Esse ciclo de expansão fiscal e ajuste deveria ser abolido do ritual de política econômica, basicamente porque gastos públicos crescendo acima do PIB para estimular a economia deveriam ocorrer apenas em momento de crise extrema, e mesmo assim havendo ainda muita controvérsia acadêmica sobre a utilidade de tais medidas.
O que a discussão sobre a necessidade de um ajuste traz hoje, assim, não vem apenas dos excessos dos últimos anos do governo Lula, mas de uma recorrente expansão de gastos públicos acima do PIB nos últimos anos, com o intuito de ajudar a economia a crescer.
Isto deveria ser o caso em itens básicos como educação e saúde, mas o governo resolveu estender esses estímulos para toda a economia.
Essa visão de um grande Estado vai levar novamente, daqui a alguns anos ou até meses, a termos novamente que pensar em "ajustes".
É inevitável imaginar que a equipe econômica acredita que o ajuste é para 2011 e depois o crescimento do gasto poderia voltar a ocorrer, como aconteceu após 2003.
É mais inevitável ainda porque os projetos públicos conhecidos até agora são caros à presidente, como Belo Monte e o Trem de Alta Velocidade, e necessários, como os investimentos para a Copa e a Olimpíada, todos com custos ainda subestimados.
O próprio salário mínimo, na regra atual, não é problema para 2011 ficando em R$ 545, mas será um enorme problema nos próximos anos com a regra de reajuste que se criou.
O que precisa haver agora não é apenas discutir o que vai se cortar, mas mudar a mentalidade estabelecida da necessidade exagerada de expansão dos gastos públicos em períodos de normalidade.
Corremos o risco de, a partir de 2012, novamente ter que ficarmos fazendo cálculos na ponta do lápis para fechar as contas. O resultado disso, no longo prazo, todos conhecemos: mais carga tributária, menor crescimento e maior potencial inflacionário.

SÉRGIO VALE é economista-chefe da MB Associados


Texto Anterior: Secretária diz que corte não deixa "muita coisa em pé"
Próximo Texto: Governo corta R$ 4 bilhões do Orçamento da Defesa
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.