São Paulo, quinta-feira, 16 de junho de 2011

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Prefeitura é usada para criar sigla de Kassab

Repórter da Folha assina lista de apoio à fundação do PSD dentro do gabinete de subprefeito da Freguesia do Ó

Partido precisa ter 490 mil assinaturas em nove Estados para ser criado; Prefeitura de SP afirma que não conhece coleta


DANIEL RONCAGLIA
DANIELA LIMA

DE SÃO PAULO

A estrutura da Prefeitura de São Paulo está sendo usada para coletar assinaturas de apoio ao PSD, partido que será criado pelo prefeito Gilberto Kassab.
Ontem, o chefe de gabinete da Subprefeitura da Freguesia do Ó, na zona norte de São Paulo, entregou uma lista de apoio à sigla a um repórter da Folha, que assinou o documento no gabinete do subprefeito Valdir Suzano, que estava no local.
O diálogo com Roberto Rodrigues, o assessor que levou o repórter até o gabinete, foi gravado. Além da assinatura, ficaram registrados na ficha o nome, o município, a seção eleitoral e o número do título de eleitor.
Depois de ser procurada pela reportagem, a assessoria da Prefeitura encaminhou nota na qual informou que Rodrigues foi exonerado ontem, "a pedido".
Para obter o registro da nova legenda na Justiça Eleitoral, Kassab e seus aliados são obrigados a apresentar 490 mil assinaturas de eleitores até o dia 30 de setembro.
Elas servem como declaração de apoio à fundação da sigla, e devem ser colhidas em pelo menos nove Estados do país para garantir a amplitude nacional do partido.

COTA
A Folha recebeu a informação de que servidores das subprefeituras estariam trabalhando para coletar essas assinaturas em diversos bairros da capital.
Segundo eleitores que foram abordados, cada subprefeito tinha uma espécie de "cota" para cumprir.
Na entrada da Subprefeitura da Freguesia do Ó, identificando-se apenas como eleitor, o repórter perguntou se poderia assinar a lista de apoio ao PSD.
Um funcionário indicou o gabinete do subprefeito Valdir Suzano, onde estava um assessor que se identificou como Roberto.
"É para a lista?", questionou o assessor, que pouco depois trouxe um bloco de fichas de apoiamento com o logotipo do PSD.
Após a assinatura do documento, o assessor ressaltou: "Isso aí não é filiação, não, viu? É só apoio".

AJUDA DE AMIGOS
Ontem, reportagem do jornal "O Estado de S. Paulo" mostrou que uma servidora comissionada de uma subprefeitura da zona sul enviou e-mail pedindo ajuda a amigos para coletar assinaturas.
Segundo o relato do jornal, a funcionária disse que havia recebido uma "missão" do "chefe mor".
Questionado sobre o e-mail, o prefeito de SP afirmou que a servidora agiu por conta própria.
"A própria funcionária disse que era de caráter pessoal e não foi uma determinação da Prefeitura de São Paulo", disse Kassab.
O DEM, partido que Kassab deixou para fundar o PSD, apresentará hoje duas representações solicitando que a captação de assinaturas seja investigada pelos Ministérios Públicos Estadual e Eleitoral.
"Queremos apurar o uso da máquina pública", disse Carlos Horbach, advogado da legenda. O PTB também questionará a coleta de assinaturas.


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