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"Faz-tudo" de Lula em SP influencia nomeações
Discreta, assessora emplaca diretores em agências e marido na Infraero
Acompanhar presidente em viagens ao exterior e triar currículos estão entre as tarefas da chefe do gabinete paulistano
RUBENS VALENTE
DE BRASÍLIA
Praticamente anônima,
uma funcionária do governo
federal exerce há sete anos
considerável influência na
gestão Luiz Inácio Lula da
Silva. Trata-se de Rosemary
Nóvoa de Noronha, a "faz-tudo" da Presidência da República em São Paulo.
Rose, como é chamada, é
presença constante (e discreta) nas comitivas presidenciais mundo afora. Emplacou
diretores em agências reguladoras e o marido numa assessoria especial da Infraero.
Entre suas raras aparições
públicas, estão duas fotografias numa revista de celebridades, identificada só pelo
nome, sem o cargo que ocupa -um dos mais estratégicos da administração direta
federal e que lhe rende
R$ 11.179 mensais brutos.
Rose trabalha ao lado do
gabinete de vidros blindados
onde Lula despacha quando
está na capital paulista, no 3º
andar do prédio da Previ, na
esquina da rua Augusta com
a avenida Paulista. Ali funciona a sede paulistana do
Banco do Brasil. Chefe do gabinete regional da Presidência da República, Rose secretaria Lula e o acompanha em
viagens internacionais.
Rose conheceu Lula nos
anos 90, trabalhando com o
então presidente nacional do
PT, José Dirceu, a quem assessorou por 12 anos. Começou no governo federal em fevereiro de 2003, como assessora especial do gabinete regional. Passou a chefe da
unidade em 2005.
Rodou o mundo a serviço
do Planalto em pelo menos
17 viagens entre 2005 e 2010
(ao todo, R$ 45 mil em diárias), a países da América Latina, Oriente Médio, África e
Europa. Costuma integrar o
Escav (escalão avançado),
equipe que prepara a chegada de Lula. Rose circula com
extrema reserva -a Folha
não localizou uma única foto
dela nesses eventos.
Um petista graduado de
São Paulo conta que ela faz
"uma triagem" de currículos
de candidatos a cargos de segundo e terceiro escalões.
A discrição começou a ficar comprometida quando
Rose apoiou nomeações para
diretorias de duas agências
reguladoras, tornando-se foco de notas na imprensa.
Em março, o advogado Rubens Carlos Vieira, procurador da Fazenda Nacional e
ex-corregedor da Anac
(Agência Nacional de Aviação Civil), foi indicado por
Lula e tomou posse como diretor na área de regulação
econômica da Anac.
Seu irmão, Paulo Rodrigues Vieira, também advogado e ex-ouvidor da Antaq
(Agência Nacional de Transportes Aquaviários), foi indicado para uma diretoria da
Ana (Agência Nacional de
Águas). Ambos contaram
com o apoio de Rose.
A nomeação de Paulo foi
conturbada. Em dezembro
de 2009, o Senado rejeitou,
por 26 votos a 5, o nome encaminhado por Lula. Em abril,
o presidente do Senado, José
Sarney (PMDB-AP), recolocou o nome em votação, mesmo após um parecer contrário a um recurso. Num lance
incomum no Senado, a nomeação acabou aprovada.
José Cláudio de Noronha,
marido de Rose, ocupa um
cargo de assessoria especial
na administração regional da
Infraero em São Paulo.
Em 2006, no escândalo
dos gastos com cartões de
crédito corporativos, o nome
dela estava na lista de 65 servidores que fizeram saques
para pagamento de despesas
da Presidência. Autorizada
por lei, Rose havia sacado R$
2,1 mil com seu cartão.
O deputado Indio da Costa
(DEM-RJ), hoje candidato a
vice-presidente na chapa de
José Serra (PSDB), e o senador Alvaro Dias (PSDB-PR)
pediram a convocação de Rose para depor na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) criada para investigar o
uso dos cartões corporativos.
Os pedidos foram negados
pela comissão.
OUTRO LADO
Procurados pela Folha, José Dirceu e os irmãos Vieira e
José Cláudio Noronha não
quiseram fazer nenhum comentário sobre ela.
A assessoria de imprensa
do Palácio do Planalto chegou a informar que o secretário particular de Lula, Gilberto Carvalho, iria responder às
perguntas da reportagem,
mas ao longo de três semanas nenhuma resposta foi
encaminhada. Rose também
não quis falar.
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