São Paulo, quarta-feira, 17 de agosto de 2011

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Ministro da Agricultura usou jatinho de empresa do setor

Rossi confirma "carona", mas diz não ter favorecido fabricante de vacinas

Em 2010, quando ele já era ministro, a Ourofino obteve autorização para comercializar vacina contra a febre aftosa
DE BRASÍLIA
DE RIBEIRÃO PRETO


O ministro da Agricultura, Wagner Rossi, usou o jato executivo de uma empresa com negócios no setor agropecuário para se deslocar entre Brasília e Ribeirão Preto (SP), cidade em que mora e mantém sua base eleitoral.
O uso do jatinho foi revelado ontem pelo jornal "Correio Braziliense" e confirmado pelo ministro, que disse ter pego "carona" no avião "em raras ocasiões" e negou ter favorecido a empresa.
A dona do avião é a Ourofino Agronegócio, que fabrica produtos veterinários, sementes e defensivos agrícolas. A empresa foi fundada em 1985 em Ribeirão Preto e hoje tem sede em Cravinhos, cidade próxima de Ribeirão.
Em outubro do ano passado, quando Rossi já era ministro, a Ourofino obteve autorização do Ministério da Agricultura para comercializar uma vacina contra a febre aftosa, passaporte para sua entrada num mercado que movimenta cerca de R$ 1 bilhão por ano no Brasil.
Rossi foi pessoalmente à sede da empresa no dia 4 de outubro para anunciar à direção da Ourofino que a licença para a produção da vacina havia sido concedida.
De acordo com a assessoria do ministro, o processo de análise da licença da Ourofino teve início muito antes de sua chegada ao ministério e uma empresa de Minas Gerais, a Inova Biotecnologia, também recebeu autorização do governo para fabricar a mesma vacina na mesma época que a Ourofino.

FILHOS
O ministro usou o jato da Ourofino pelo menos duas vezes no ano passado. Segundo sua assessoria, ele pegou carona uma vez de Brasília para Ribeirão Preto e em outra ocasião voou até Uberaba (MG) para uma exposição agropecuária.
Um dos filhos do ministro, o deputado estadual Baleia Rossi (PMDB-SP), também viajou várias vezes no avião da Ourofino, segundo o "Correio Braziliense".
Um assessor do ministro, o diretor da Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo do ministério, Ricardo Saud, foi sócio dos donos da Ourofino numa empresa chamada Ethika Suplementos e Bem-Estar até 2009, quando a sociedade foi desfeita e a empresa teve suas atividades encerradas.
A Ourofino faturou R$ 289 milhões no ano passado. Ela doou R$ 100 mil para a campanha de Baleia Rossi e tem um contrato com a Ilha Produções -empresa de outro filho do ministro e de uma nora dele- para realização de vídeos institucionais.
A revelação das relações entre Rossi e a empresa de Ribeirão ampliou as pressões que ele sofre desde que o ministério se tornou alvo de denúncias. Ontem o presidente da Comissão de Ética Pública, Sepúlveda Pertence, disse que o caso será analisado na próxima reunião da comissão, em setembro.
Os problemas de Rossi começaram em julho, quando o diretor-financeiro da Conab, Oscar Jucá Neto, foi demitido e acusou-o de comandar um esquema de corrupção.
Pouco depois, uma reportagem da revista "Veja" revelou a influência exercida pelo lobista Júlio Fróes no ministério e provocou a queda do braço direito de Rossi, o secretário executivo do ministério, Milton Ortolan.
O ex-chefe da comissão de licitações do ministério Israel Leonardo Batista acusou Fróes de distribuir envelopes com dinheiro dentro do ministério após a assinatura de um contrato milionário obtido por uma empresa que o lobista representava.
Ontem, em entrevista à Folha, Batista reafirmou as acusações feitas a Fróes e disse que o ministério foi "corrompido" após a posse de Rossi no ministério.


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