São Paulo, sábado, 18 de junho de 2011

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ANÁLISE DILEMA DA PRESIDENTE

Após crise, Dilma se vê encurralada por demandas de aliados

Impacientes com demora em nomeações e liberação de verbas, deputados e senadores ameaçam com votações

JOSIAS DE SOUZA
DE BRASÍLIA

Em estratégia bem estudada, a presidente Dilma realizou nos últimos 15 dias um esforço para arrancar do noticiário o vocábulo "crise".
Trocou ministros, redefiniu tarefas e levou à vitrine duas prioridades: o programa de erradicação da miséria e a segunda fase do Minha Casa, Minha Vida.
A tentativa de mudar de assunto resultou, por ora, em fracasso. Os aliados de Dilma cuidaram de manter na pauta dois temas incômodos: cargos e verbas.
Uma liderança do PT cunhou uma expressão que resume o dilema do governo. Disse que, sob Dilma, o governo impõe aos seus aliados a "tática da nádega".
O Planalto não diz sim nem não aos seus apoiadores. Recolhe os pedidos e senta em cima. Impacientes, deputados e senadores armam bombas no Legislativo.
Nesta semana, acionaram-se dois artefatos: a emenda 29, que tonifica os cofres da saúde; e a PEC 300, que cria um piso salarial para policiais militares e bombeiros.
Retiradas da gaveta pelo presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), as duas encrencas produzirão no Tesouro um estrago estimado em R$ 55 bilhões anuais.
Na primeira semana de trabalho, a ministra Ideli Salvatti, a nova articuladora política, não se mostrou capaz de desativar as explosões.
Em reunião com líderes partidários da Câmara, Ideli ouviu as demandas e pediu tempo. Prometeu respostas para depois dos festejos de São João. Brincou: "Vocês vão para a fogueira e eu ficarei trabalhando em Brasília".
Um dos presentes ironizou: "Tem razão, nós vamos para a fogueira". Referia-se à elevação da temperatura das cobranças dos prefeitos.
Brindados com um recesso branco, os deputados vão às suas bases sem ter o que dizer sobre as verbas que prometeram em 2010. No encontro com Ideli, ficou entendido que, passado o feriadão, os partidos esperam que ela "limpe as prateleiras".
Do contrário, a fogueira será transferida para o Congresso. Dilma prometera liberar R$ 750 milhões em emendas. A demanda agora aumentou: R$ 3,3 bilhões.
Quanto aos cargos, os aliados incumbiram Cândido Vaccarezza (PT-SP), líder do governo na Câmara, de repassar a Ideli um recado.
Constatou-se que, hoje, algo como 75% das poltronas de segundo e terceiro escalão estão ocupadas por apadrinhados do PT. Uma realidade que Dilma herdou de Lula.
Para atender aos pedidos dos outros 13 partidos aliados, o Planalto terá de mandar petistas ao olho da rua.
Na semana passada, antes do anúncio da minirreforma ministerial, Maia levou a Dilma a sugestão de tornar Vaccarezza em ministro.
Em diálogos reservados, Maia reproduziu a resposta: "Quem nomeia ministros e líderes do governo sou eu".
Na terça-feira, ele deu o troco. Agendou a votação da emenda 29 e compôs uma comissão para a PEC 300.
Dilma vive o dilema do fisiologismo. Pode optar pelo estilo acomodatício adotado por FHC e Lula ou manter o estilo durão. Se optar pela segunda opção, arcará com as consequências. Seus aliados não parecem dispostos a aceitar a "tática da nádega".


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