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ANÁLISE DILEMA DA PRESIDENTE
Após crise, Dilma se vê encurralada por demandas de aliados
Impacientes com demora em nomeações e liberação de verbas, deputados e senadores ameaçam com votações
JOSIAS DE SOUZA
DE BRASÍLIA
Em estratégia bem estudada, a presidente Dilma realizou nos últimos 15 dias um
esforço para arrancar do noticiário o vocábulo "crise".
Trocou ministros, redefiniu tarefas e levou à vitrine
duas prioridades: o programa de erradicação da miséria
e a segunda fase do Minha
Casa, Minha Vida.
A tentativa de mudar de
assunto resultou, por ora, em
fracasso. Os aliados de Dilma
cuidaram de manter na pauta dois temas incômodos:
cargos e verbas.
Uma liderança do PT cunhou uma expressão que resume o dilema do governo.
Disse que, sob Dilma, o governo impõe aos seus aliados
a "tática da nádega".
O Planalto não diz sim
nem não aos seus apoiadores. Recolhe os pedidos e senta em cima. Impacientes, deputados e senadores armam
bombas no Legislativo.
Nesta semana, acionaram-se dois artefatos: a emenda
29, que tonifica os cofres da
saúde; e a PEC 300, que cria
um piso salarial para policiais militares e bombeiros.
Retiradas da gaveta pelo
presidente da Câmara, Marco
Maia (PT-RS), as duas encrencas produzirão no Tesouro um estrago estimado
em R$ 55 bilhões anuais.
Na primeira semana de
trabalho, a ministra Ideli Salvatti, a nova articuladora política, não se mostrou capaz
de desativar as explosões.
Em reunião com líderes
partidários da Câmara, Ideli
ouviu as demandas e pediu
tempo. Prometeu respostas
para depois dos festejos de
São João. Brincou: "Vocês
vão para a fogueira e eu ficarei trabalhando em Brasília".
Um dos presentes ironizou: "Tem razão, nós vamos
para a fogueira". Referia-se à
elevação da temperatura das
cobranças dos prefeitos.
Brindados com um recesso
branco, os deputados vão às
suas bases sem ter o que dizer sobre as verbas que prometeram em 2010. No encontro com Ideli, ficou entendido que, passado o feriadão,
os partidos esperam que ela
"limpe as prateleiras".
Do contrário, a fogueira será transferida para o Congresso. Dilma prometera liberar R$ 750 milhões em
emendas. A demanda agora
aumentou: R$ 3,3 bilhões.
Quanto aos cargos, os aliados incumbiram Cândido
Vaccarezza (PT-SP), líder do
governo na Câmara, de repassar a Ideli um recado.
Constatou-se que, hoje, algo como 75% das poltronas
de segundo e terceiro escalão
estão ocupadas por apadrinhados do PT. Uma realidade que Dilma herdou de Lula.
Para atender aos pedidos
dos outros 13 partidos aliados, o Planalto terá de mandar petistas ao olho da rua.
Na semana passada, antes
do anúncio da minirreforma
ministerial, Maia levou a Dilma a sugestão de tornar Vaccarezza em ministro.
Em diálogos reservados,
Maia reproduziu a resposta:
"Quem nomeia ministros e líderes do governo sou eu".
Na terça-feira, ele deu o
troco. Agendou a votação da
emenda 29 e compôs uma comissão para a PEC 300.
Dilma vive o dilema do fisiologismo. Pode optar pelo
estilo acomodatício adotado
por FHC e Lula ou manter o
estilo durão. Se optar pela segunda opção, arcará com as
consequências. Seus aliados
não parecem dispostos a
aceitar a "tática da nádega".
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