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PRESIDENTE 40 ELEIÇÕES 2010
Serra e Dilma protagonizam embate mais duro; Marina centra críticas em tucano
Candidato do PSDB diz que PT aposta no "quanto pior, melhor'; petista afirma que FHC não investiu em saneamento
Atrás nas pesquisas, tucano tenta mostrar diferenças com Dilma;
estratégia da verde mira votos das classes A e B
DE SÃO PAULO
Principais adversários na
disputa pela Presidência, o
tucano José Serra e a petista
Dilma Rousseff protagonizaram ontem, no debate online
Folha/UOL, o mais duro embate da corrida eleitoral.
Adotando tom mais agressivo, Serra, oito pontos atrás
da petista no Datafolha, a
chamou de "ingrata" e a acusou de mentir. Ela revidou,
acusando-o de "calúnia".
Os dois trocaram insultos
e farpas nas quase três horas
de debate. Dilma chegou a
pedir direito de resposta
quando Serra afirmou que o
governo era marcado por um
"troca-troca desavergonhado". Não obteve.
Já na primeira questão a
Serra, Dilma afirmou que o
DEM entrara na Justiça contra o ProUni. E questionou:
"Se a Justiça aceitasse o
pedido do PFL, partido do
seu vice, como você explicaria essa atitude para 704 mil
estudantes?".
Serra, que chegou ao Tuca
(teatro da PUC onde foi o
evento), preparado para um
debate ácido, subiu o tom.
Lembrando que o PT se
opôs ao Plano Real, à Lei de
Responsabilidade Fiscal e
até à eleição de Tancredo Neves, disse que os petistas são
imbatíveis no "torneio do
quanto pior melhor".
"FIXAÇÃO NO PASSADO"
"Você tem fixação no passado, no Fernando Henrique
Cardoso. Muito ingrata com
FHC. Você é ingrata com o
Itamar e com FHC, porque
eles fizeram Plano Real, LRF,
Fundef", atacou Serra.
Num mesmo disparo, o tucano disse que Dilma copiou
sua proposta de implantação
de AMEs (Ambulatório Médico Especializado) e insinuou
que o PT deixava o trabalho
sujo a cargo de sindicalistas.
Mais uma vez, Serra lançou dúvidas sobre a competência de Dilma."Esse negócio do DEM parece brincadeira. Você também não está
preocupada. Aí, algum assessor te deu isso e você vem
querer criar dificuldade."
A discussão invadiu o segundo bloco, quando Serra
disse que, após o vazamento
da prova e de dados, o Enem
estava "desmoralizado".
"Acho um absurdo um
candidato à Presidência vir
aqui dizer que o Enem está
desmoralizado", reagiu ela.
Como a petista repetiu que
uma lei impedia investimento em saneamento sem que
houvesse custeio de Estados
e municípios, Serra disse que
ela divulgava uma "mentira". Valendo-se do termo
"vazamento", voltou à carga:
"Vocês quebraram o sigilo
bancário de um vice-presidente do PSDB [Eduardo Jorge]. Você disse que não tinha
acontecido, chegou até
ameaçar a processar e depois
isso aconteceu", disse.
Dilma rebateu:
"A gente tem que ter cuidado para que o termo de calúnia não seja aquele que recaia sobre aqueles que caluniam e não provam. Nós processamos em todos os casos
aqueles que falaram que vazamos qualquer coisa. Não se
pode caluniar".
A petista rompeu a estratégia de manter-se calma
quando o assunto foi carga
tributária em contraposição
à falta de investimentos em
saneamento. Dilma disse que
os números de Serra eram
antigos, de 2008.
"É bom atualizar o número
para saber se de fato essa
afirmação tem consistência",
ironizou ela, evitando olhar
para o adversário.
Em resposta, Serra disse
que ela estava desinformada
sobre o que acontecia no próprio governo: "PIS/Cofins sobre saneamento aumentou
de 3% para 7,6%. Isso foi feito no seu governo e com você, segundo se diz, coordenando o governo".
A petista reagiu: "Discutir
saneamento é algo que você
não deveria tentar porque vocês não fizeram nada no Brasil nesse período [FHC]".
ESTRATÉGIA TUCANA
A adoção de um tom mais
incisivo era a estratégia do
comando da campanha de
Serra, que avalia que chegou
a hora de reforçar as diferenças entre as candidaturas.
Embora a posição agrade
ao PSDB, o tucano subiu uns
decibéis além do planejado.
A escalada é atribuída ao
nervosismo do candidato e
também ao fato de ter sido
surpreendido por ataques da
verde Marina Silva.
Mais incisiva que o habitual, Marina atacou Serra
duas vezes. Criticou a qualidade do ensino em São Paulo, que o PSDB governa há 16
anos, e ironizou o uso de uma
favela cenográfica no programa de TV do tucano.
Ela lembrou visita a uma
comunidade em Diadema
(SP). "Não entendi, já que no
seu programa ontem teve
uma favela virtual, quando
temos uma favela tão real".
A mudança foi incentivada por assessores de Marina,
que ficou apagada na Band.
Além disso, o PV avaliou que
a queda de Serra nas pesquisas abriu um flanco para
crescimento, especialmente
nas classes A e B.
Preservada pelos oponentes, Marina só atacou Dilma
no fim do debate, ao lamentar a falta de infraestrutura,
"mesmo com essa história de
pai, de mãe, de tio, de avô"
-a petista é sempre chamada por Lula de "mãe do PAC".
Mais tarde, Serra negou
em evento que tenha sido
agressivo e disse que foi
"gentil como sempre".
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