São Paulo, quarta-feira, 19 de outubro de 2011

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Ministério indicava empresas, diz delator

Policial vai ao Congresso e aponta ONGs e fornecedores que teriam praticado irregularidades em convênios do Esporte

Partidos governistas transformam audiência com ministro em ato de desagravo e evitam perguntas incômodas

DE BRASÍLIA

O policial militar João Dias Ferreira apontou ontem nomes de organizações não governamentais e empresas que teriam desviado recursos do Ministério do Esporte para os cofres do PC do B, o partido do ministro Orlando Silva.
Em conversa a portas fechadas com deputados e senadores de oposição, o policial citou três empresas, HP, Infinita e Linha Direta, que seriam "indicadas" pelo "pessoal do ministério".
Elas forneciam notas fiscais supostamente frias para entidades que tinham contratos com a pasta do Esporte.
Ele também deu nomes de quatro entidades que teriam praticado irregularidades ao participar do programa Segundo Tempo, que desenvolve atividades esportivas em comunidades carentes.
São elas a Fundação Toni Matos, o Centro Comunitário Imaculada Conceição, a Liga de Futebol Society do Distrito Federal e o Instituto Novo Horizonte. Elas teriam recebido quantias de R$ 600 mil a R$ 3 milhões do ministério.
Procuradas pela Folha, representantes das ONGs e das empresas citadas pelo policial não foram localizadas.
Ferreira afirmou que, em 2008, as quatro entidades repassaram R$ 1 milhão para o motorista Célio Soares Pereira, que hoje trabalha com Ferreira. O motorista, segundo a revista "Veja", disse ter entregue esse dinheiro pessoalmente a Silva, em encontro na garagem do ministério.
Ferreira afirmou aos congressistas que o R$ 1 milhão seria dividido da seguinte forma: metade para o PC do B e metade para o rateio entre os participantes do esquema.
O policial reafirmou que tem como provar a participação do ministro nas irregularidades e disse ter gravação, "que será divulgada em breve", de uma reunião no ministério em que conversou sobre os desvios com o ex-secretário executivo da pasta.
O policial, que disse ter pedido proteção por estar sendo ameaçado de morte, disse que "são mais de 300 caixas-pretas no Esporte".
Ferreira conversou com um grupo de deputados e senadores da oposição no mesmo momento em que Silva prestava depoimento numa comissão da Câmara. Blindado pela base governista, o ministro prestou esclarecimentos sem ser incomodado com perguntas embaraçosas.
A sessão virou um ato de desagravo, com aplausos e discursos de apoio dos governistas. Silva negou as acusações do policial e atacou-o duramente. "Quem faz a agressão? Trata-se de um desqualificado, um criminoso, uma pessoa que foi presa, uma fonte bandida".
Silva disse que se sente num "tribunal de inquisição" e que as acusações são uma "cortina de fumaça" para desviar o foco dos problemas judiciais dos delatores. (MARIA CLARA CABRAL, ANDRÉIA SADI, RENATO MACHADO E ANDREZA MATAIS)


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