São Paulo, domingo, 20 de fevereiro de 2011

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Deputados usam verba de gabinete para pagar parentes

Familiares emprestaram imóveis para montagem de escritórios políticos no interior de São Paulo em 2010

Assembleia Legislativa oferece a cada gabinete até R$ 21,8 mil por mês para despesas de apoio ao exercício do mandato

Mateus Bruxel/Folhapress
Cartaz em casa onde Pedro Tobias diz ter mantido escritório político em Bauru; o imóvel pertence a sobrinhos de deputado

SILVIO NAVARRO
FERNANDO GALLO
DE SÃO PAULO

Três deputados estaduais paulistas repassaram a familiares no ano passado parte do dinheiro que seus gabinetes na Assembleia Legislativa recebem para apoiá-los no exercício de seus mandatos.
Os três usaram a verba para cobrir despesas com o aluguel de imóveis que pertenciam a seus parentes e onde eles dizem ter mantido escritórios no interior do Estado.
Cada deputado estadual de São Paulo teve direito em 2010 a uma verba de até R$ 20,5 mil para manter escritórios políticos fora da Assembleia, encomendar estudos e contratar consultorias, entre outras despesas.
Levantamento feito pela Folha mostra que no ano passado os 94 deputados estaduais paulistas gastaram R$ 17 milhões dos R$ 23 milhões que seus gabinetes estavam autorizados a utilizar com esse tipo de despesa.
Oito deputados usaram toda a verba a que tiveram direito. Dois, João Barbosa (DEM) e José Augusto (PSDB), abriram mão do benefício e não gastaram nada. Neste ano, a verba assegurada aos gabinetes foi reajustada para R$ 21,8 mil por mês.

SOBRINHOS
Desde julho de 2009, a Assembleia Legislativa publica todo mês na internet informações detalhadas sobre o uso feito pelos deputados estaduais desses recursos, incluindo o valor de cada pagamento, os beneficiários e a natureza das despesas.
Pedro Tobias (PSDB), um dos três deputados que repassaram dinheiro para parentes, transferiu R$ 27 mil do seu gabinete para três sobrinhos, de acordo com os registros da Assembleia Legislativa. Cada sobrinho recebeu R$ 1.000 por mês.
Segundo o deputado, seus sobrinhos são proprietários de uma casa em que ele manteve até recentemente um escritório político em Bauru, a 329 quilômetros da capital.
Tobias diz que pagou aluguel aos sobrinhos durante mais de dois anos, até mudar de escritório no ano passado.
Favorito para presidir a seção paulista do PSDB a partir de abril, Tobias foi reeleito com 198 mil votos na campanha do ano passado e assumirá no mês que vem seu quarto mandato na Assembleia Legislativa.
O deputado Roberto Massafera (PSDB), reeleito com 81 mil votos e com base eleitoral em Araraquara, a 273 quilômetros da capital, pagou mensalmente R$ 1.650 à Lacon Engenharia, empresa que pertence a seu irmão Carlos Eduardo.
Massafera usou um imóvel da Lacon para montar um escritório que funcionou na cidade durante um ano.
Ele diz ter decidido mudar de endereço quando seus adversários na política local começaram a espalhar a informação de que ele usava o imóvel do irmão como escritório político.
Eli Corrêa Filho (DEM), que cumpriu três mandatos na Assembleia e acaba de assumir seu primeiro mandato na Câmara dos Deputados, pagou R$ 4.650 por mês ao sogro, o empresário Francisco Assis de Almeida, para manter seu escritório político em Guarulhos.
O salário dos deputados estaduais paulistas subiu de R$ 12,6 mil para R$ 20 mil neste ano. Além do salário e da verba do gabinete, cada parlamentar tem direito a 16 funcionários pagos pela Assembleia, carro e auxílio-moradia de R$ 2.250 por mês.


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