São Paulo, domingo, 20 de fevereiro de 2011

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ANÁLISE

Sucessão de escândalos torna opinião pública condescendente com desvios

RUBENS FIGUEIREDO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O caso das verbas de gabinete dos deputados estaduais se soma a uma série de outras passagens pouco edificantes do noticiário.
Cartões corporativos, atos secretos do Senado, aposentadorias vitalícias de governadores que ficaram poucos dias no cargo, vereador usando sua verba de gabinete para contratar empresa da própria mulher. E por aí vai.
Escândalo bom é escândalo novo -e é muito provável que, já na semana que vem, os meios de comunicação divulguem alguma nova irregularidade no poder público.
E a questão das verbas da Assembleia acabará entrando opacamente para a história como sendo mais um caso de mau uso do seu, do meu, do nosso dinheirinho.

REPUBLICANO
É mais do que conhecido o fato de que não temos uma robusta tradição republicana em nosso país.
Ao contrário, o público e o privado se confundem. Talvez o Brasil seja o único caso na história de transposição de aparelho estatal, com a chegada de D. João e sua corte no início do século XIX.
Com eles vieram os vícios portugueses do patrimonialismo e da burocratização.
A esse traço cultural, somam-se a quase inexistência de controles e a generalizada impunidade dos deputados.
Os regulamentos não são muito precisos quanto ao uso das verbas de gabinete.
Se todos fazem, cria-se uma espécie de "legitimidade informal", um verdadeiro "conceito jabuticaba", exótica contribuição brasileira à teoria política clássica.
Para completar o quadro, nossa opinião pública, depois do fenômeno perpetrado pelo ex-presidente Lula, está muito mais condescendente com os escorregões dos políticos.
A conjugação traiçoeira de escândalos à profusão no governo de um presidente-ídolo num contexto de forte aumento de renda e de consumo deixou claramente a questão da moralidade para um segundo -ou talvez terceiro- plano.
Com a economia bombando e um presidente showman, um escandalozinho aqui e outro ali até que diverte a gente.

RUBENS FIGUEIREDO, cientista político pela USP, é diretor do Cepac, Pesquisa e Comunicação e autor, entre outros, de "Marketing Político e Persuasão Eleitoral"


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