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ENTREVISTA TASSO JEREISSATI
O PSDB precisa passar por um processo de renovação
FAVORITO À REELEIÇÃO, SENADOR DEFENDE REORGANIZAÇÃO DA LEGENDA E AFIRMA QUE, SEM OPOSIÇÃO, DEMOCRACIA CORRE RISCO
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SILVIO NAVARRO
ENVIADO ESPECIAL A FORTALEZA
Um dos poucos nomes da
velha guarda da oposição
que resiste à "onda vermelha" nas eleições, o senador
Tasso Jereissati (PSDB-CE),
líder nas pesquisas à reeleição, afirma que o PSDB "precisará passar por um processo de renovação" se a vitória
de Dilma Rousseff (PT) à Presidência se confirmar.
Tasso aponta dificuldade
em fazer campanha de oposição "quando a economia vai
bem", e diz temer pela "influência despudorada" de
Lula nas campanhas.
"Se o Senado não tiver
oposição, resistência, a democracia e as instituições
correm sério risco."
Isolado num Estado onde
Dilma e o atual governador,
Cid Gomes (PSB), deverão
obter índices acachapantes
nas urnas, segundo pesquisas, o tucano retomou no interior o antigo jingle do "galeguinho dos zóio [sic] azul".
De acordo com os últimos
levantamentos do Datafolha,
Tasso lidera a corrida ao Senado com 52% das intenções
de voto, seguido pelo deputado federal Eunício Oliveira
(PMDB, com 31%) e pelo ex-ministro da Previdência José
Pimentel (PT, com 27%).
Ele falou com a Folha no
seu escritório, em Fortaleza
(CE), na última quinta.
Leia trechos da entrevista.
Folha - Esta é a sua eleição
mais difícil?
Tasso Jereissati - É dificílima, porque tem um ponto
que não se pode negar: fazer
campanha de oposição
quando a economia vai bem
é difícil. Segundo, porque
praticamente a política acabou no Brasil, os partidos estão se liquidando em função
do processo de cooptação
que agora se institucionalizou e passou a ser a regra.
O senhor ficou isolado no
Ceará?
Todos os partidos ficaram
de um lado só, com o objetivo
claro de derrotar a força política que havia aqui.
Mas o senhor sempre teve
aliados aqui. O que ocorreu?
Antigos amigos se juntaram a adversários e fizeram
um trabalho bem feito.
Esses antigos aliados estão
hoje com os candidatos do
presidente.
O envolvimento pessoal
do presidente é uma coisa
que, com a força e o simbolismo do cargo, é muito importante para a população, principalmente a mais humilde.
Quando ele perde todo o pudor e vira garoto-propaganda, entra diariamente na
campanha se colocando como principal militante, isso é
uma coisa forte, não se pode
deixar de reconhecer.
Mas, depois de jogar por
terra os partidos, estão jogando por terra o respeito pela figura do presidente independente. Ele usa a Presidência para agir eleitoralmente.
Mas isso é apoio aos aliados...
Aqui, na campanha do Senado, eles não aparecem, é
só o Lula. Nos Estados, todos
os candidatos ao governo
têm Lula ao lado. É uma mistura de vitória do populismo
com aparelhamento fascista
da máquina, usada de maneira despudorada, com recursos ilimitados. O adversário é visto por essa máquina
como um inimigo a ser aniquilado. Sem a figura do Lula, essa massa se dissolveria.
E a liderança da Dilma nas
pesquisas?
Ninguém é Dilma, não conheço ninguém que seja Dilma. Todo mundo vai votar na
candidata do Lula.
As pesquisas apontam o crescimento do governo no Senado, como o senhor vê isso?
Se o Senado não tiver oposição, resistência, a democracia e as instituições correm sério risco.
Se Serra não vencer, a oposição precisará se reestruturar?
Não só oposição. Os partidos do governo também, porque formam uma massa disforme. O que há de comum
entre José Dirceu, Dilma, Temer, Collor, Renan, Sarney e
Maluf? Não há nada de ideológico. O que os une é a troca
de vantagens no poder. É
uma intensa busca por diretoria "fura-poço".
O senhor acredita que haverá
segundo turno?
Numa eleição normal, um
escândalo como o da Erenice
[Guerra] causaria um tremor
sem precedentes. O presidente e a candidata Dilma
passaram toda a campanha
dizendo que a Casa Civil era o
coração do governo. Disseram que a Erenice era o alter
ego da Dilma. Ou seja, é a
corrupção no coração do governo. Só que ocorre uma coisa perigosíssima: banalizou-se o escândalo da corrupção.
Então, não dá para prever.
O que o senhor espera de um
eventual governo Dilma?
Não tenho dúvida de que
será um desastre.
O senhor vai ser oposição no
Ceará e no plano nacional?
Eu vou ser, alguém vai ter
que dizer o que acontece.
Anuncia-se coisa que não
existe com facilidade, mente-se com facilidade espantosa.
Como o senhor avalia o futuro do PSDB?
O PSDB tem que se reorganizar. Acho que ainda sairá
forte porque tem alguma homogeneidade. Sairá forte em
São Paulo, Minas, no Paraná.
Mas, do ponto de vista geral,
precisará passar por um processo de renovação, não tenho a menor dúvida.
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