São Paulo, quinta-feira, 20 de outubro de 2011

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ANÁLISE

Falar em perda de autonomia do BC é leitura equivocada

CHRISTOPHER GARMAN
ESPECIAL PARA A FOLHA

A decisão do Banco Central de começar a reduzir os juros em 31 de agosto pegou quase todos os analistas do mercado financeiro de surpresa e tem levantado dúvidas sobre a sua autonomia operacional.
Com a inflação acumulada em 12 meses rodando acima de 7,3%, bem acima do teto da meta de inflação (6,5%), foi comum a leitura de que a ação do BC teria sido fruto da orientação política do Planalto de privilegiar crescimento econômico em detrimento do controle da inflação.
Essa decisão, somada às investidas oficiais para evitar uma apreciação cambial, aumentou a preocupação de que o atual governo está gradualmente desmontando o tripé da política macroeconômica dos últimos 11 anos: disciplina fiscal, metas de inflação e câmbio flutuante.
Não há como negar que a política macroeconômica tem sofrido ajustes relevantes. Mas colocar a decisão de reduzir juros na rubrica de uma "decisão política" que atropelou a autonomia do BC é uma leitura equivocada.
Primeiro, tudo indica que Alexandre Tombini compartilha da visão de assessores da presidente que a crise na Europa e nos EUA representa uma oportunidade histórica de reduzir a taxa básica de juros -que permanece uma das mais altas do mundo.
Segundo, a resolução do BC foi tomada em um contexto em que o governo optou por adotar uma retórica mais firme na política fiscal. Há sérias dúvidas sobre a capacidade do governo de cumprir a meta de superavit primário para 2012, dado o aumento do salário mínimo em 14% e as desonerações tributárias.
Mas a liderança do governo atribuiu urgência constitucional à reforma da Previdência do setor público, e o governo tem lutado contra novos aumentos de gastos.
Mesmo que o governo não consiga entregar uma nova política fiscal, seria equivocado concluir que nenhum esforço está sendo feito para pelo menos tentar ancorar uma política fiscal alinhada com juros reais mais baixos.
Se essa leitura estiver correta, pode-se chegar a duas conclusões. Primeiro, o BC permanece na posição de ditar a ritmo de queda de juros. Segundo, se a estratégia der errado, e a inflação ameaçar o topo da meta de inflação em 2012, o BC terá a liberdade para aumentar juros de novo.

CHRISTOPHER GARMAN é diretor para a América Latina do Eurasia Group.


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