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União usará decisão do CNJ para reaver terras no país
Incra pedirá o cancelamento de títulos que somam 3 milhões de hectares
Esse é o total de terras que o órgão tenta reaver por meio de 452 ações judiciais em 6 Estados da região amazônica
CLAUDIO ANGELO
DE BRASÍLIA
O Incra pedirá à Justiça de
seis Estados amazônicos o
cancelamento de títulos de
terra que somam 3 milhões
de hectares, o equivalente a
dez vezes a área do DF.
Esse é o total de terras que
o órgão tenta reaver por meio
de 452 ações judiciais no Pará, Amapá, Amazonas, Tocantins, Acre, em Mato Grosso e em Rondônia.
A procuradora do Incra,
Gilda Diniz, informou que o
pedido será feito após decisão do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) de anteontem
que determinou o cancelamento de 5,5 mil títulos irregulares no Pará, possivelmente frutos de grilagem de
terras públicas.
A ideia é espalhar a decisão para outros Estados, a
fim de acelerar o combate à
grilagem na Amazônia.
Hoje, o cancelamento de
títulos irregulares só pode ser
feito por meio de ação judicial. É um processo demorado e custoso, e que é feito caso a caso. "Temos ações em
curso desde 1993", diz Diniz.
A decisão de anteontem do
ministro Gilson Dipp, do CNJ,
tem o potencial de mudar esse quadro. Ela estabelece que
o cancelamento dos títulos
irregulares pode ser feito por
decisão administrativa, ou
seja, sem a necessidade de
uma ação judicial.
Espera-se que os Tribunais
de Justiça dos Estados sigam
a decisão do CNJ, como o Pará terá de fazer (o TJ paraense
havia negado o cancelamento administrativo em 2009, o
que motivou recurso do governo estadual e do Ministério Público ao CNJ).
JURISPRUDÊNCIA
"É como se [o CNJ] criasse
uma jurisprudência", afirmou Diniz, para quem a decisão "acelera e dá visibilidade" às tentativas de retomada de terras públicas.
A briga judicial pela posse
de terras na Amazônia se arrasta desde a ditadura.
Em 1971, um decreto-lei
declarou zonas de segurança
nacional as terras numa faixa de 100 km de cada lado de
rodovias como a Belém-Brasília e a Transamazônica. Essas áreas deveriam ser registradas em nome da União.
Eram 195 milhões de hectares, uma área maior que a
do Amazonas. Parte deles foi
ocupada irregularmente,
parte foi grilada.
"Nos casos que a gente pede [a retomada], são grandes
áreas ocupadas por um só,
ou o cara só tem o título", diz
Diniz. O objetivo do grileiro é
especular com a terra, vendendo pedaços dela ou dando o título falso como garantia de empréstimos.
A grilagem é a principal
causa de violência no campo
na Amazônia.
Um caso famoso é o do título de 3.000 hectares do fazendeiro Regivaldo Pereira
Galvão, o Taradão, sobre
uma terra do Incra que abriga um assentamento, no
qual trabalhava a missionária americana Dorothy Stang.
A disputa levou ao assassinato da freira em 2005. Taradão foi condenado em maio a
30 anos de prisão por ter encomendado o crime. O título
foi cancelado.
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