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ANÁLISE
Com defesa da mulher, Dilma assume posição emblemática
UM DOS OBSTÁCULOS À ENTRADA DE MULHERES NA POLÍTICA É NOSSO SISTEMA ELEITORAL, QUE FAVORECE QUEM TEM MAIS RECURSOS
TERESA SACCHET
ESPECIAL PARA A FOLHA
Dilma Rousseff chega à
posição de primeira mulher
eleita presidente do Brasil
chamando atenção para as desigualdades de gênero.
No seu primeiro pronunciamento após a vitória, ela
afirmou que um de seus primeiros compromissos seria com as mulheres.
Com a proposta de compor
seu ministério com 30% de
mulheres, colocando uma na
chefia do Itamaraty, Dilma
assume uma posição emblemática e aumenta expectativas de que seu governo terá
um olhar diferente para essa
forma de desigualdade, muito relacionada às demais.
A iniciativa vem em boa
hora. O último relatório da
Igualdade de Gênero do Fórum Econômico Mundial colocou o Brasil na 85ª posição
no ranking entre 135 países.
A questão econômica contribui para tal resultado (as
mulheres recebem 65% do
rendimento dos homens),
mas é na política que o Brasil tem um dos piores índices.
Com apenas 8,9% de mulheres na Câmara dos Deputados, quando o tema é presença feminina no Legislativo federal, o Brasil é o penúltimo país da América Latina.
No ranking do Fórum Econômico Mundial que mede o
"empoderamento" feminino
na política, o Brasil ocupa a 112ª posição.
Um dos obstáculos centrais à entrada de mulheres
na política é o nosso sistema
eleitoral, cuja arquitetura favorece a eleição de candidatos com mais recursos financeiros -e as mulheres têm
arrecadação média bastante inferior à dos homens.
Nas eleições deste ano,
houve aumento significativo
nos gastos de campanha e,
possivelmente em consequência disso, o número de
mulheres eleitas deputadas
federais diminuiu de 45 para
44, enquanto o número de
candidaturas femininas subiu de 12,5% em 2006 para 22% em 2010.
Isso indica que apenas selecionar mais mulheres não é
suficiente para aumentar o
número de eleitas. É necessário que haja igualdade de
competição, e o financiamento é preponderante.
Os enunciados da nova
presidente geraram grandes
expectativas. Mas que diferença de fato faria a composição dos ministérios com 30%
de mulheres? Esse aumento
pode ter impactos simbólicos e substantivos importantes.
Primeiro: poderá auxiliar a
construção de novos valores
e perspectivas sobre as relações de gênero, contribuindo
para promover mais mulheres a posições públicas, e para maior equidade de gênero
em diferentes esferas sociais.
Segundo: as probabilidades são grandes de que um
ministério (ou Parlamento)
com mais mulheres não tenha as mesmas políticas que
um ministério composto majoritariamente por homens.
Quando a questão é tornar
as políticas públicas mais expressivas das ideias, dos interesses e das perspectivas
de setores mais vastos da população, a inclusão política
das mulheres é uma condição importante.
TERESA SACCHET, doutora em ciência
política pela Universidade de Essex
(Inglaterra), é pesquisadora do Núcleo de
Pesquisa de Políticas Públicas da USP
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