São Paulo, domingo, 21 de novembro de 2010

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ANÁLISE

Com defesa da mulher, Dilma assume posição emblemática

UM DOS OBSTÁCULOS À ENTRADA DE MULHERES NA POLÍTICA É NOSSO SISTEMA ELEITORAL, QUE FAVORECE QUEM TEM MAIS RECURSOS

TERESA SACCHET
ESPECIAL PARA A FOLHA

Dilma Rousseff chega à posição de primeira mulher eleita presidente do Brasil chamando atenção para as desigualdades de gênero.
No seu primeiro pronunciamento após a vitória, ela afirmou que um de seus primeiros compromissos seria com as mulheres.
Com a proposta de compor seu ministério com 30% de mulheres, colocando uma na chefia do Itamaraty, Dilma assume uma posição emblemática e aumenta expectativas de que seu governo terá um olhar diferente para essa forma de desigualdade, muito relacionada às demais.
A iniciativa vem em boa hora. O último relatório da Igualdade de Gênero do Fórum Econômico Mundial colocou o Brasil na 85ª posição no ranking entre 135 países.
A questão econômica contribui para tal resultado (as mulheres recebem 65% do rendimento dos homens), mas é na política que o Brasil tem um dos piores índices.
Com apenas 8,9% de mulheres na Câmara dos Deputados, quando o tema é presença feminina no Legislativo federal, o Brasil é o penúltimo país da América Latina.
No ranking do Fórum Econômico Mundial que mede o "empoderamento" feminino na política, o Brasil ocupa a 112ª posição.
Um dos obstáculos centrais à entrada de mulheres na política é o nosso sistema eleitoral, cuja arquitetura favorece a eleição de candidatos com mais recursos financeiros -e as mulheres têm arrecadação média bastante inferior à dos homens.
Nas eleições deste ano, houve aumento significativo nos gastos de campanha e, possivelmente em consequência disso, o número de mulheres eleitas deputadas federais diminuiu de 45 para 44, enquanto o número de candidaturas femininas subiu de 12,5% em 2006 para 22% em 2010.
Isso indica que apenas selecionar mais mulheres não é suficiente para aumentar o número de eleitas. É necessário que haja igualdade de competição, e o financiamento é preponderante.
Os enunciados da nova presidente geraram grandes expectativas. Mas que diferença de fato faria a composição dos ministérios com 30% de mulheres? Esse aumento pode ter impactos simbólicos e substantivos importantes.
Primeiro: poderá auxiliar a construção de novos valores e perspectivas sobre as relações de gênero, contribuindo para promover mais mulheres a posições públicas, e para maior equidade de gênero em diferentes esferas sociais.
Segundo: as probabilidades são grandes de que um ministério (ou Parlamento) com mais mulheres não tenha as mesmas políticas que um ministério composto majoritariamente por homens.
Quando a questão é tornar as políticas públicas mais expressivas das ideias, dos interesses e das perspectivas de setores mais vastos da população, a inclusão política das mulheres é uma condição importante.


TERESA SACCHET, doutora em ciência política pela Universidade de Essex (Inglaterra), é pesquisadora do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas da USP


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