São Paulo, terça-feira, 21 de dezembro de 2010

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Futura ministra foi militante comunista

ANA PAULA SOUSA
DE SÃO PAULO

Quando pequena, ela era chamada de "queridinha do papai". Já adulta, ao encampar a carreira de cantora, teve de driblar outra alcunha: a de "irmã do Chico".
A provocação é revelada no documentário "Raízes do Brasil", de Nelson Pereira dos Santos. O filme, uma visita a um dos clãs mais ilustres do Brasil, nos faz descobrir que Sérgio Buarque de Hollanda (1902-1982), pensador de proa, era todo chamegos com a miudinha Ana Maria.
Já a sombra artística do irmão célebre, Chico Buarque, fez com que Ana de Hollanda, 62, levasse algum tempo para tornar públicas suas composições. Em entrevistas, ela chegou a admitir o medo das comparações.
Apesar de ter debutado no palco aos 16 anos, acompanhando Chico, Ana gravou só quatro discos durante a carreira. E apenas no mais recente deles, "Só na Canção", lançado em 2009, mostrou 14 músicas de própria autoria.
Antes, cantou muito Chico, Noel Rosa, Paulo Cesar Pinheiro, Toquinho, Jards Macalé. Gravou também "Toda Saudade", de seu antecessor na Esplanada dos Ministério, Gilberto Gil.
Sua voz curta e delicada, à la Nara Leão, também foi parar nos palcos teatrais. Como atriz, Ana, que frequentou o Curso de Formação de Atores no Teatro Vento Forte, estreou há 20 anos, sob direção de Amir Haddad.
Ao lado da autora Consuelo de Castro, deu asas também à dramaturgia e assinou a peça "Paixões Provisórias".

RUA BURY
Artista que tateou diversos caminhos, Ana sempre teve também um pezinho na política. A veia engajada, nutrida desde a juventude na movimentada casa dos pais, na rua Bury, no bairro do Pacaembu, zona oeste de São Paulo, fez com que militasse no Partido Comunista.
Foi ao assumir o setor de música do Centro Cultural São Paulo (CCSP), em 1982, que a artista aproximou-se do universo da administração pública da cultura.
Após a passagem pela instituição municipal paulistana, foi chamada pelo prefeito Humberto Parro, do PSDB, para assumir a secretaria de Cultura de Osasco.
Durante o governo Lula, Ana chegou a fazer parte dos quadros do Ministério da Cultura (MinC), como diretora do Centro de Música da Funarte, entre 2003 e 2007, na gestão de Antonio Grassi.
Além de coordenar o Projeto Pixinguinha, voltado à música popular brasileira, ela participou da organização das câmaras setoriais da música. Muita gente ligada à política cultural tem, de Ana, a referência desse período.
Após a demissão de Grassi, que saiu atirando contra a administração de Gilberto Gil, ela também deixou o cargo. Sua indicação para o ministério teria sido, inclusive, capitaneada por Grassi, um dos líderes do movimento da chamada "retomada" da pasta pelo PT.
Há duas semanas, procurada pela Folha para falar sobre a indicação ao MinC, Ana de Hollanda riu e desconversou: "Vocês sabem mais do que a gente". Seu nome ganhou força quando Dilma Rousseff manifestou o desejo de ver uma mulher na pasta.
A futura ministra tem dois filhos. Dona de um perfil discreto, será a primeira mulher titular da pasta, criada em 1985.


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