São Paulo, terça-feira, 22 de junho de 2010

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ANÁLISE

Biologia induz o homem a proteger sua família, mas democracia exige o mérito

HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA

O nepotismo, como a obesidade, pode ser interpretado como um desacerto entre nossa programação biológica e o ambiente moderno em que vivemos, uma espécie de armadilha evolutiva.
No caso dos quilinhos a mais, já se tornou um lugar-comum explicá-los com auxílio da seleção natural.
Devido às adversidades enfrentadas pela humanidade na maior parte de sua história, o organismo humano desenvolveu uma espécie de tara por alimentos altamente calóricos e eficiência na hora de armazenar energia na forma de tecido adiposo.
As condições de vida mudaram, mas o organismo, não. Ele segue programado para poupar o máximo possível de energia, porém num contexto de farta oferta de calorias e num ritmo de vida em que as gastamos cada vez menos. O resultado é a epidemia de obesidade.
Com o nepotismo a coisa não é muito diferente. A biologia nos preparou para favorecer filhos, irmãos (com os quais partilhamos 50% dos genes) e, em menor grau, parentes mais afastados.
É evidente que esse traço não convive bem com a exigência democrática de selecionar funcionários públicos com base no mérito. O resultado é a sucessão de escândalos em contratações e formas criativas de burla às regras republicanas, como o nepotismo cruzado, pelo qual uma autoridade emprega os parentes de um colega em troca de tratamento recíproco para seus familiares.
Como é improvável que leis alterem nossos pendores biológicos, a melhor forma de evitar a repetição dos casos de nepotismo é reduzir drasticamente os cargos de livre nomeação ou mesmo acabar com eles.


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