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ANÁLISE
Biologia induz o homem a proteger sua família, mas democracia exige o mérito
HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA
O nepotismo, como a obesidade, pode ser interpretado
como um desacerto entre
nossa programação biológica e o ambiente moderno em
que vivemos, uma espécie de
armadilha evolutiva.
No caso dos quilinhos a
mais, já se tornou um lugar-comum explicá-los com auxílio da seleção natural.
Devido às adversidades
enfrentadas pela humanidade na maior parte de sua história, o organismo humano
desenvolveu uma espécie de
tara por alimentos altamente
calóricos e eficiência na hora
de armazenar energia na forma de tecido adiposo.
As condições de vida mudaram, mas o organismo,
não. Ele segue programado
para poupar o máximo possível de energia, porém num
contexto de farta oferta de calorias e num ritmo de vida em
que as gastamos cada vez
menos. O resultado é a epidemia de obesidade.
Com o nepotismo a coisa
não é muito diferente. A biologia nos preparou para favorecer filhos, irmãos (com os
quais partilhamos 50% dos
genes) e, em menor grau, parentes mais afastados.
É evidente que esse traço
não convive bem com a exigência democrática de selecionar funcionários públicos
com base no mérito. O resultado é a sucessão de escândalos em contratações e formas criativas de burla às regras republicanas, como o
nepotismo cruzado, pelo
qual uma autoridade emprega os parentes de um colega
em troca de tratamento recíproco para seus familiares.
Como é improvável que
leis alterem nossos pendores
biológicos, a melhor forma
de evitar a repetição dos casos de nepotismo é reduzir
drasticamente os cargos de
livre nomeação ou mesmo
acabar com eles.
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