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Vídeo indica "mensalão" em Mato Grosso do Sul
Gravação revelaria propinas a governador, políticos, juízes e promotores
Conforme conversa,
gravada por câmera
escondida, esquema era
para proteger aliados e
ter decisões favoráveis
SILVIA FRIAS
COLABORAÇÃO PARA FOLHA, EM CAMPO
GRANDE
GRACILIANO ROCHA
DE PORTO ALEGRE
O primeiro-secretário da
Assembleia Legislativa de
Mato Grosso do Sul, Ary Rigo
(PSDB), aparece em um vídeo revelando detalhes de
um suposto esquema ilegal
de pagamentos, com o dinheiro da Casa, para o governador André Puccinelli
(PMDB), aos deputados e às
autoridades do Tribunal de
Justiça e do Ministério Público do Estado.
O vídeo foi gravado com
uma câmera escondida pelo
secretário de governo de
Dourados, Eleandro Passaia,
sem o deputado saber. O encontro ocorreu em 12 de junho, num hotel em Maracaju
(162 km de Campo Grande).
A reportagem teve acesso
a 32 minutos da conversa. Os
vídeos em questão vazaram
ontem no Youtube.
A Folha apurou que o vídeo integra um conjunto de
evidências levantadas por
Passaia e entregues à Polícia
Federal, que iniciou investigação sigilosa sobre o suposto pagamento de mesadas a
autoridades de MS com dinheiro do duodécimo da Assembleia. O recurso é oriundo do Orçamento do Estado
para o custeio do Legislativo.
Em um dos trechos, o deputado tucano conta a Passaia que a Assembleia "devolve" dinheiro para o governador André Puccinelli. Em
tom de reclamação, Rigo diz
que o valor entregue ao governador subiu de R$ 2 milhões para R$ 6 milhões.
O deputado se queixa de
que o aumento obrigou a cortar pagamentos feitos a desembargadores e pessoal do
Ministério Público.
"Nós devolvíamos R$ 2 milhões em dinheiro para o André, R$ 900 para dar para os
desembargadores e para o TJ
e R$ 300 para o Ministério
Público. Cortou tudo. Agora
vamos devolver R$ 6 milhões
para o governo, por isso tá essa queda", disse Rigo.
O corte também atingiu o
que seria suposta propina
paga aos deputados. Rigo
diz: "Lá na Assembleia nenhum deputado ganhava
menos de R$ 120 mil. Agora,
os deputados vão ter que se
contentar com R$ 42".
Puccinelli tem o apoio de
20 dos 24 deputados da Casa.
Rigo é um dos parlamentares mais influentes do Estado. A Primeira Secretaria da
Assembleia é um cargo estratégico por controlar a vida financeira da Casa e o destino
do duodécimo.
PREÇO DA PROTEÇÃO
Eleandro Passaia passou quatro
meses, sob orientação da PF,
gravando reuniões com políticos e pagamentos de propina ao
prefeito de Dourados, Ari Artuzi
(expulso do PDT). O material gerou a Operação Uragano, que
prendeu prefeito, secretários e
vereadores em 1º de setembro.
Na conversa do dia 12 de
junho, Rigo explica que o valor pago ao TJ e à Procuradoria servia para proteger aliados de investigações e obter
decisões judiciais favoráveis.
O deputado menciona reunião com um assessor do deputado Londres Machado
(PR), ex-presidente da Assembleia, e uma terceira pessoa, que seria o desembargador Claudionor Abss Duarte,
para evitar suposta prisão de
Artuzi, em junho, antes da
operação da PF.
"Nós tiramos ele da cadeia! Pô, para com isso! Você
dá R$ 300 mil por mês para o
Ministério Público, seguramos tudo", diz o deputado.
O Tribunal de Justiça do
Mato Grosso do Sul divulgou
nota em que afirma que os repasses recebidos do governo
do Estado são previstos em
lei, contabilizados e publicados no "Diário da Justiça" e
no Portal da Transparência
da instituição.
O tribunal informou ainda
que "interpelará judicialmente o denunciante para
que a verdade seja esclarecida com transparência e rapidez". A nota do TJ-MS foi assinada pelo desembargador
Paulo Alfeu Puccinelli.
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