São Paulo, quarta-feira, 25 de maio de 2011

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Capacidade de produção sobe menos que salários

Indústria ficou menos eficiente e sofre com a oferta de importados

Segundo dados do IBGE, quantia produzida por horas trabalhadas está recuando, ao passo que a remuneração cresce


MARIANA SCHREIBER
DE SÃO PAULO

Com o mercado de trabalho aquecido, os salários pagos pela indústria cresceram mais do que sua capacidade de produção nos últimos doze meses. Considerando os últimos dois trimestres, a produtividade industrial recuou, enquanto os salários continuaram crescendo.
Isso significa que o setor está menos eficiente e mais caro, o que pode alimentar a inflação, reduzir a competitividade nacional e limitar a capacidade das empresas de conceder novos aumentos reais de salário e de investir.
Uma consequência natural do cenário atual seria o endurecimento das negociações salariais, já que a produtividade está em descompasso com os custos.
Para o economista sênior do Banco Espírito Santo Flávio Serrano, no entanto, a falta de mão de obra qualificada dá espaço para os trabalhadores terem aumentos maiores: "A briga vai ser dura".
Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que a produtividade da indústria acumula crescimento de 2,4% em doze meses.
Já a remuneração real do trabalhador cresce 3,6%. A produtividade indica quanto é produzido por hora de trabalho do funcionários.
Para o economista da LCA Fábio Romão, é a competição forte com os importados que está limitando o ritmo de crescimento da produção. Ao mesmo tempo, o mercado de trabalho está aquecido, o que infla os salários.
Além de terem que pagar mais pela mão de obra, as empresas estão lidando com insumos mais caros. A consequência seria o repasse do custo maior para os preços. Mas, em alguns casos, isso não é possível devido à competição dos importados.
Se por um lado a situação limita os efeitos na inflação, por outro reduz os lucros das empresas, afetando sua capacidade de fazer investimentos e gerar empregos.
A observação é do economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial Rogério Souza.
O economista da Unicamp Fernando Sarti lembra que a indústria também tem que lidar com juros altos e elevada carga tributária.
Um estudo da Ernst Young mostra que a produtividade da economia brasileira cresceu em média 0,4% ao ano de 2000 a 2008, a menor taxa entre os BRICs.
Na China, a taxa média foi 5,2%, na Rússia, 4,8%, e na Índia, 2,8%. O estudo mediu a eficiência dos trabalhadores, da alocação de investimentos e dos equipamentos de produção.
"A taxa de natalidade do país está diminuindo, a oferta de trabalho vai ficar restrita e os salários vão continuar crescendo", prevê o economista Jorge Arbache, da USP.
Segundo ele, isso afetará principalmente a indústria que é intensiva em mão de obra. "Os ganhos de produtividade são cada vez mais fundamentais", conclui.


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