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Procurador arquiva investigação sobre a morte de Jango
Não há "qualquer indício" de assassinato
do presidente, conclui Ministério Público
BERNARDO MELLO FRANCO
DE SÃO PAULO
O Ministério Público Federal decidiu arquivar a investigação sobre a suspeita de assassinato do presidente João
Goulart (1919-1976).
Em despacho interno a
que a Folha teve acesso, o
procurador Júlio Schwonke
de Castro Júnior descarta a
tese de uma conspiração internacional para matar Jango
em seu exílio na Argentina.
"Mesmo após a prolongada instrução do presente,
não há qualquer indício relevante do assassinato do presidente João Goulart, nem a
implicação concreta de qualquer autoridade no caso."
Para o procurador, a suspeita de assassinato se baseava unicamente em "depoimentos confusos e contraditórios" de Mário Neira
Barreiro, ex-agente da ditadura uruguaia preso por crimes comuns no Brasil.
Ele disse à Polícia Federal
ter participado de uma ação
conjunta dos regimes do Cone Sul, supostamente batizada de Operação Escorpião,
para eliminar Jango e impedir seu retorno ao país.
Segundo o relato, o presidente teria morrido por envenenamento -e não por infarto fulminante, como registra
seu atestado de óbito.
A investigação foi aberta
há dois anos e quatro meses
pela Procuradoria da República no Rio Grande do Sul.
O órgão analisou documentos secretos e ouviu diversas testemunhas, entre
elas um ex-adido militar em
Buenos Aires e a ex-primeira-dama Maria Thereza Goulart.
No despacho assinado no
último dia 9, o procurador Júlio Schwonke ainda manifestou irritação com Cristopher
Goulart, neto de Jango, e
ameaçou responsabilizá-lo
criminalmente por não devolver os autos do caso.
O neto de Jango criticou o
arquivamento e acusou o Ministério Público de não se
empenhar no caso. "É nítida
a falta de interesse do Estado
brasileiro de levar a investigação a sério", afirmou. "Para nós, a dúvida persiste."
Ele prometeu devolver os
autos do caso e disse que estuda pedir a abertura de nova
investigação na Argentina,
onde o presidente morreu:
"É um país mais amadurecido para apurar os crimes da
ditadura", disse.
O caso já havia sido alvo
de comissões especiais da
Câmara e da Assembleia Legislativa gaúcha, que também não encontraram provas do suposto complô.
No mês passado, o historiador Luiz Alberto Moniz
Bandeira disse acreditar, em
entrevista à Folha, que a família Goulart reforçaria a tese conspiratória por interesses financeiros. Os herdeiros
negaram a acusação.
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