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Humor amordaçado
Pressionados por mudanças na lei, programas de TV censuram piadas e tiram os candidatos do ar para evitar punição judicial
BERNARDO MELLO FRANCO
DE SÃO PAULO
Quem achou graça nas sequências ao lado, em que os
integrantes do "Casseta &
Planeta" imitam os presidenciáveis na caça aos votos, vai
ter que esperar até o fim da
eleição para rir de novo.
Assustados com as novas
regras do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), os humorísticos da TV foram obrigados
a puxar o freio na cobertura
da corrida ao Planalto.
Para os comediantes, o veto a qualquer piada que "degrade ou ridicularize candidato, partido político ou coligação" -estabelecido pela
resolução 23.191/2009 da
corte- caiu como uma lei da
mordaça sobre a telinha.
"É o estilo Dunga dominando a eleição", diz o casseta Hélio de la Peña. "O povo
devia ter direito a se divertir
um pouco com a política, já
que será obrigado a sofrer
com o horário gratuito."
No ar desde 1992 na Globo,
o "Casseta" tomou a medida
mais radical para se adaptar
à norma em vigor desde o dia
1º: baniu qualquer referência
aos candidatos até outubro.
Os quadros sobre as eleições agora são limitados a
personagens fictícios como o
candidato do Partido do Polvo Profeta, inspirado no molusco que previa os resultados dos jogos na Copa.
"A gente preferia tratar de
absurdos mais reais, como o
jingle do Collor com a Dilma,
mas a lei entende que você só
trata de política para favorecer ou prejudicar alguém. Estão levando o humor muito a
sério", afirma La Peña, que
"incorporou" Marina Silva
(PV) na última paródia dos
presidenciáveis, em junho.
No "CQC", a ordem é insistir na cobertura da eleição de
verdade, mas com restrições.
Uma delas foi aposentar recursos de computação gráfica que ajudavam a dar um
tom mais irreverente às entrevistas -a lei proíbe usar
"trucagem, montagem ou
outro recurso de áudio ou vídeo" que possa ser interpretado como deboche.
"É lamentável. Fomos
obrigados a abrir mão dos
cartunistas eletrônicos, que
eram parte importantes da
nossa cobertura", declara
Marcelo Tas, líder dos engravatados da Band, o "CQC".
Outra mudança forçada foi
a abertura de espaço para os
candidatos nanicos, sob o
risco de perder audiência.
"Estamos tomando cuidado para seguir a lei, mas acreditamos que essas restrições
prejudicam bastante. Os políticos já entenderam que os
os microfones do "CQC" os
ajudam a se conectar com
uma audiência que está de
saco cheio deles", diz Tas.
As regras do TSE também
preocupam a turma do "Pânico na TV". Depois de levantar a audiência e o humor dos
parlamentares com os desfiles de Sabrina Sato em vestidos justíssimos no Congresso, o programa estuda uma
fórmula para manter a política na pauta.
O diretor Alan Rapp, que
estava viajando na semana
passada, disse à coluna Outro Canal que nenhuma piada vai ao ar sem consulta prévia aos advogados da RedeTV!: "Não consigo fazer
quase nada. Sigo o que diz o
jurídico da emissora".
REBOLATION
Antes de as novas regras
entrarem em vigor, os humorísticos protagonizaram alguns dos melhores momentos da pré-campanha.
No "CQC", José Serra
(PSDB) fez piadas de duplo
sentido e brincou com o apelido de vampiro: "Aprecio
muito pescoços de mulheres.
Mas não a ponto de morder
para tirar sangue".
Sempre blindada por assessores, Dilma Rousseff (PT)
baixou a guarda no "Pânico"
e disse a Sabrina que, se eleita, vai dançar o rebolation.
Promessa de campanha?
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