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ANÁLISE
Oportunismo e falta de opção levaram à escolha de senador
RENATA LO PRETE
EDITORA DO PAINEL
Alvaro Dias virou -ao menos até o momento- candidato a vice por uma mistura
de oportunismo (dele) e falta
de opção (de José Serra).
Na cabeça de Serra, plano
mesmo existiu apenas o A, de
Aécio Neves. Por apostar na
possibilidade de atraí-lo
-fundamentalmente com
base em pesquisas que, a esta altura, indicassem perspectiva robusta de vitória-,
ele jamais investiu na construção de uma alternativa.
Temia fechar a porta àquela que sempre lhe pareceu a
melhor solução.
Para completar, as negativas públicas do ex-governador de Minas eram contraditadas nos bastidores, aqui e
ali, por pessoas de sua inteira
confiança, mantendo viva a
especulação em torno da
"chapa dos sonhos".
A novela se arrastou durante meses, produzindo algum desgaste político e, no
noticiário, uma longa lista de
gente que "não aceitou" ser
vice -composta, em boa medida, por gente a quem Serra
nunca cogitou dar a vaga.
Único esboço de um plano
B, Francisco Dornelles não tinha os atributos do primo
Aécio, mas poderia ajudar no
Rio, Estado-chave onde os
tucanos correm risco de deslizamento, e, mais importante, traria como dote quase
um minuto e meio de tempo
de televisão do PP, partido
que o senador preside.
Porém, em meados de
maio, a mesma onda de crescimento de Dilma Rousseff
(PT) que levou Aécio a pronunciar o "não" definitivo
enterrou a disposição do PP
em se juntar à oposição.
Aí começou a repescagem.
Presidente do PSDB, o pernambucano Sérgio Guerra
subiu na bolsa de apostas
menos pela capacidade de
agregar votos, diminuta, e
mais porque seu nome causaria pouco atrito entre os
aliados. Já estava em queda
quando foram descobertos
funcionários fantasmas em
seu gabinete no Senado.
Serra considerou a sério a
hipótese Patricia Amorim,
vereadora tucana no Rio (um
ganho potencial) e presidente do Flamengo (outro).
Opção heterodoxa, a ex-nadadora foi bombardeada
pelo próprio partido (Guerra
e Dias à frente) e pelo presidente do DEM, Rodrigo Maia
(RJ) -que agora ameaça deixar a aliança em razão da escolha de Álvaro e do modo
como ela veio a público.
Com a resistência em baixa, a candidatura foi atacada
por uma infecção oportunista: Alvaro Dias, um senador
afeito à vitrine das CPIs que
jamais contou com a simpatia de Serra, passou a vender
sua indicação como única
forma de convencer o irmão,
Osmar (PDT), a apoiar os tucanos no Paraná, em vez de
se lançar candidato ao governo e dar palanque a Dilma.
Serra não gostou da faca
no pescoço, mas, interessado
em interromper a série de
más notícias para a campanha, acabou cedendo.
Seu vice -se o arranjo sobreviver- carece das três
qualidades mais valorizadas
na função. Não agrega tempo
de TV, não ajuda a resolver
um Estado complicado (o Paraná é dos mais confortáveis
para os tucanos) e não ameniza a resistência de nenhum
setor do eleitorado a Serra.
Foi o que deu para fazer.
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