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PERFIL
MARCELLO ALENCAR
Doente, ex-governador ainda dirige PSDB do Rio
Mesmo preso à cadeira de rodas, Alencar costurou a aliança com Gabeira
BERNARDO MELLO FRANCO
DE SÃO PAULO
Presidente de honra do
PSDB do Rio, o ex-governador Marcello Alencar, 84,
não disputa uma eleição há
16 anos. Há oito está preso à
cadeira de rodas, sequela de
um acidente vascular cerebral que quase o matou.
Apesar da saúde debilitada, ele é o principal responsável pela aliança que livrou
o tucano José Serra de ficar
sem palanque no terceiro colégio eleitoral do país.
A pedido do presidenciável, Alencar costurou pessoalmente o lançamento de
Fernando Gabeira (PV) ao
governo fluminense, num
delicado palanque duplo
com a verde Marina Silva.
A chapa foi definida na sala de estar de seu apartamento, com ampla vista para a
praia de São Conrado.
Na semana passada, em
meio a uma crise que ameaçava implodir a coalizão, o
ex-governador voltou ao circuito para garantir a palavra
firmada por quatro partidos.
Como de hábito, sua intervenção quase não foi notada.
Desde que deixou o front
eleitoral, ele mantém o mesmo estilo: praticamente não
aparece, mas manda como
poucos caciques brasileiros.
"Tenho que ter sempre a
última palavra. Para ser obedecido ou desobedecido",
sentencia o ex-governador.
Alencar assumiu o diretório estadual do PSDB em
1993, quando rompeu com
Leonel Brizola (PDT). Comanda o partido como um
Estado absolutista. Os aliados são unânimes: nada é feito sem seu consentimento.
"Na minha idade, acho
que não devia me meter em
política. Mas não dá", diz ele,
lembrando os atropelos da
aliança fluminense. "Para
não mentir, eu gosto..."
DISSIDENTES
Como no brizolismo, quem
ousa desobedecer é convidado a deixar o partido. A lista
inclui o governador Sérgio
Cabral e o prefeito Eduardo
Paes. Alencar não gosta de
falar no assunto. "Meu filho,
isso é muito penoso..."
Quem aceita obedecer é
brindado por um misto de
proteção e rispidez.
No dia em que o ex-governador recebeu a Folha, o deputado Otavio Leite (PSDB-RJ) ouviu uma bronca num
ato partidário: "Porra, mas tu
sempre chega atrasado!".
Herdeiro do populismo da
Baixada Fluminense, o prefeito de Duque de Caixas, José Camilo Zito, chegou a
abandonar a legenda.
Foi perdoado. "Ele só me
chama de paizão. Na rua, me
beija escandalosamente", diverte-se Alencar: "O Rio é um
Estado de nariz em pé. Eu
gosto do Zito, ele dá uma liga
entre o partido e o povão".
Na véspera da entrevista, o
ex-governador havia almoçado com Serra, que declarou que o Rio precisava de
"um novo Marcello".
"Talvez ele tenha dito isso
porque sabe que eu tô na bola sete, na boca da caçapa",
debocha o ex-governador:
"Quando acabou o discurso,
todos os puxa-sacos oficiais
vieram atrás de mim".
O escracho volta com um
assunto proibido para a
maioria dos políticos: o gosto
pela bebida, que fez a alegria
dos chargistas nos anos 90.
"Eu chegava na zona oeste, e o povo dizia: "Paga uma
branquinha pra gente, governador". Aí não tinha jeito, eu
tinha que beber", explica-se.
"Me chamavam de Velho
Barreiro, mas era injustiça,
porque nunca fui viciado em
nada", diz, sem demonstrar
incômodo com o apelido.
O tema também pontua
sua avaliação sobre o presidente. "Eu sei que o Lula gosta do que é bom. Trocou a cachaça pelo uísque..."
Na juventude, uísque e cigarro eram "companheiros
de guerrilha" do advogado
que defendia presos políticos. Fumou até cinco maços
por dia, mas parou. O álcool
segue em doses moderadas.
Ao comentar a última descoberta, Alencar exibe a empolgação de um estreante na
política. Descreve Gabeira,
de 69 anos, como "um jovem
muito talentoso, com propostas para o futuro".
"O Gabeira está muito
mais próximo de nós do que
do PV", orgulha-se. "Ele já é
um tucano de bico largo!"
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