São Paulo, domingo, 26 de setembro de 2010

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Mensalão de Zeca continuou com Puccinelli, diz infiltrado

Pivô de escândalo em MS afirma que esquema já funcionava no governo anterior

Antonio Coca - 23.abr.09/DouradosNews
O ex-secretário Eleandro Passaia, que agiu como informante da PF no governo de MS

Segundo Passaia, há outras gravações que detalham mesadas; os dois políticos citados tentam novo mandato

GRACILIANO ROCHA
DE PORTO ALEGRE

O jornalista Eleandro Passaia, 34, afirmou à Folha que o governador de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli (PMDB), continuou o esquema de "mensalão" já existente na gestão do antecessor, Zeca do PT (1999-2002).
Secretário de Governo de Dourados entre maio e a última quinta, Passaia gravou conversas, como informante da Polícia Federal e com autorização da Justiça, que resultaram em duas investigações. A primeira atinge autoridades do Estado e a outra envolve toda a cúpula municipal de Dourados.
Por isso, o prefeito Ari Artuzi (expulso do PDT), o vice, secretários e vereadores da cidade acabaram presos.

 

Folha - No vídeo, Rigo diz que dava dinheiro a autoridades. Era mensalão ou repasse institucional?
Eleandro Passaia -
Ele já havia falado comigo outras vezes sobre esse mensalão. Por mais que ele fale que não, é mensalão. No vídeo, ele dá detalhes da época do Puccinelli, mas também da época do Zeca. A gente não pode esquecer que o Rigo era líder na Assembleia do Zeca.

Mas lá Rigo se refere só ao mensalão pago pelo André.
Tem mais vídeos e ele fala dos esquemas também com o Zeca. O que vazou foi um de meia hora, mas tenho conversa de uma hora e meia.

Esse suposto mensalão era distribuído como?
Não sei. Sei que era sempre em espécie. Não queria causar desconfiança. Se perguntasse mais, ia desconfiar.

O sr. já esteve com Puccinelli?
Várias vezes.

O sr. já participou de alguma reunião entre ele e o Artuzi?
Várias.

Alguma delas teve menção a pagamentos ilegais?
Tem vários vídeos que entreguei à PF.

O governador aparece?
Não lembro.

O Rigo foi o único deputado que o sr. filmou?
Conversei com o Marçal Filho pedindo retorno, com o Geraldo Resende pedindo retorno [deputados do PMDB].

Como assim "retorno"?
[Do] Retorno dos recursos que eles traziam para cá, 10% eles queriam em dinheiro. No mundo da corrupção, qualquer assessor sabe que retorno é o retorno do dinheiro viabilizado por um parlamentar.

Eles receberam 10% sobre o valor das obras?
As empreiteiras fazem pagamento para eles. Não posso provar [se receberam].

O vídeo vai ter impacto na eleição?
A sociedade vai ter muita dificuldade para escolher. Contra o Zeca tem uma gravação da família Uemura [cujos integrantes foram presos pela PF por fraude em licitações em 2009], que estava bancando a campanha dele em troca de duas secretarias. O interlocutor do Zeca é o deputado Vander Loubet (PT).

De quando é esse vídeo?
Foi no mês passado.

Como foi isso?
Em maio deste ano fui convidado para ser secretário de Governo e aí o prefeito me perguntou: "Você quer pagar os vereadores e fazer as conversas com as empresas? Se você topar, te dou um dinheirinho aí". Me abriu tudo. Perguntei como é que era. Ele me disse que eu tinha de pagar os vereadores, que tirava 10% daqui, dali.

E o sr. aceitou?
Não. Procurei o delegado [Bráulio] Galloni e disse que nunca concordei com corrupção, que pediria as contas ou podia ajudar a desvendar o esquema. Ele pediu proteção judicial e começamos.

O sr. recebeu dinheiro?
O prefeito me deu R$ 15 mil, que eu entreguei à PF. Em todas as gravações sempre deixava claro que nunca tinha recebido nada. Não recebi dinheiro [de corrupção] nem sou um bandido arrependido que queria vingança. Só comecei [no esquema] depois de procurar a PF.

As pessoas denunciadas chamam o sr. de traidor.
[Foram] Eles [que] traíram a mim e a eleitores.


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