|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
Consultor liga esquema a contas no exterior
Parceiro de empresa diz que foi orientado a depositar em Hong Kong dinheiro para cobrir "dívida" de campanha
Empresário de Miami confirma reuniões sobre remessas em São Paulo, mas nega envolvimento político nos negócios
RUBENS VALENTE
FERNANDA ODILLA
ANDREZA MATAIS
DE BRASÍLIA
O esquema de favorecimento a empresas privadas
que provocou a queda da então ministra da Casa Civil,
Erenice Guerra, contava com
duas contas bancárias no exterior para receber o dinheiro
arrecadado com contratos de
intermediação de negócios
com o governo federal. A afirmação é do consultor Rubnei
Quícoli, contratado pela empresa EDRB do Brasil para
"fazer virar" um projeto.
As contas estão em nome
de empresas em Hong Kong,
região administrativa especial da China, e, segundo o
consultor, foram indicadas
para o depósito de R$ 5 milhões que seriam pagos ao
grupo de lobby.
A empresa de energia solar
EDRB do Brasil diz que deveria pagar o valor para ter liberado um financiamento no
BNDES. Como a Folha revelou dia 16, a Capital, dos filhos da então ministra Erenice, intermediava o negócio.
O consultor Rubnei Quícoli, parceiro da EDRB num
projeto de usina solar no Nordeste, e um dos dois donos
da EDRB, Aldo Wagner, revelaram à Folha, há duas semanas, e-mails e uma minuta de contrato em que a Capital lhes pedia dinheiro para
obter o financiamento.
Os e-mails foram enviados
por um servidor da Casa Civil. A EDRB foi recebida em
audiência oficial na Presidência da República, com a
participação, segundo Wagner e Quícoli, de Erenice.
A denúncia levou à queda
da ministra no dia em que foi
divulgada pela Folha. Segundo os papeis, a Capital
pediu R$ 240 mil em seis parcelas mais 5% sobre o total a
ser liberado pelo banco. A
EDRB pretendia obter R$ 9 bi
do BNDES, em três parcelas.
Segundo Quícoli, a EDRB
não fez os pagamentos, pedidos pela primeira vez em dezembro. As conversas entre
eles, contudo, continuaram.
Entre fevereiro e março,
segundo o consultor, o ex-diretor dos Correios Marco Antônio Oliveira levantou a necessidade de um pagamento
de R$ 5 milhões que deveriam ser usados, segundo
Quícoli, para cobrir "uma dívida" ligada à campanha da
presidenciável Dilma Rousseff (PT). O PT negou e ameaçou interpelar Quícoli.
A Folha localizou uma testemunha de uma dessas conversas, que pediu para não
ser identificada. Ela confirmou ter ouvido o pedido de
R$ 5 milhões feito por Marco
Antônio. O pagamento não
foi feito, mas houve uma discussão sobre como isso poderia ser efetivado.
Num primeiro momento,
como a Folha revelou, o grupo de lobistas ligado à Capital sugeriu a Quícoli um pagamento numa conta de outra consultoria de Brasília (a Synergy), no Banco do Brasil.
Não houve acordo.
CONTAS EM HONG KONG
O que não se sabia é que,
em maio, as conversas foram
retomadas. Quícoli disse que
Marco Antônio, tio de outro
sócio da Capital, o advogado
e ex-servidor da Casa Civil Vinícius Castro, sugeriu então
uma segunda possibilidade:
depósitos em duas contas em
agência do banco HSBC na
cidade de Hong Kong.
Segundo Quícoli, Marco
Antônio lhe disse que poderiam ser usadas contas que
estavam sob controle do seu
genro, o empresário Roberto
Ribeiro, que vive em Miami
(EUA) e possui uma empresa
exportadora de cigarros.
No dia 25 de maio, Quícoli
disse ter recebido um e-mail
com os dados das contas, em
nome das empresas Right
Day Enterprises Ltd. e Tartar
International Ltd. A Folha
confirmou em Hong Kong
que elas de fato existem.
Quícoli também afirmou
ter se reunido, em 12 de junho, com Ribeiro e Marco Antônio num hotel nos Jardins,
em São Paulo. Na conversa,
diz o consultor, novamente
Marco Antônio teria falado
de depósitos no exterior.
Localizado pela Folha, Ribeiro confirmou, por e-mail,
que esteve reunido com Quícoli no hotel, a pedido de seu
sogro, Marco Antônio. Contudo, Ribeiro negou ter ouvido falar sobre os compromissos de campanha. Alegou
que as contas tinham relação
com uma possível negociação pretendida pela EDRB.
"O que o Marco Antônio
me pediu foi para me apresentar o sr. Quicoli, que ele tinha muitas oportunidades
de fazer investimento no exterior e, como sou empresário nos EUA, seria de grande
valia conhecê-lo", escreveu
Ribeiro à Folha.
"Enviei as informações
bancárias a pedido do sr.
Quícoli, para o mesmo checar com seu banco a possibilidade de fazer negócios com
uma ou outra. Em meu breve
encontro no hotel, ele me disse que as empresas não "qualificavam" para que ele pudesse fazer qualquer tipo de
negócio com as mesmas."
Ribeiro disse que as duas
empresas de Hong Kong fazem negócios com ele, mas
que as contas bancárias não
são por ele controladas.
Depois de falar sobre negócios e depósitos em contas
no exterior, Ribeiro entregou
a Quícoli um cartão da Belcorp of America, registrada
em nome dele na Flórida.
Texto Anterior: Fernanda Torres: Pior do que está fica Próximo Texto: Outro lado: Citados negam acusações de empresário Índice | Comunicar Erros
|