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Internet é o vale-tudo da campanha eleitoral
Anonimato e publicação fácil tornam rede principal canal de ofensas a rivais
Veículo mais popular, rádio é o meio termo entre a agressividade da web e o tom otimista que televisão adota
ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
DE SÃO PAULO
Para se apresentar ao eleitor, um presidenciável se ampara em três grandes mídias:
TV, rádio e web. E precisa
adotar uma estratégia diferente em cada uma delas.
Nesse sentido, a internet é
o "inferno": espaço do vale-tudo eleitoral, onde as pancadas são mais fortes para levar logo o adversário à lona.
Caso do vídeo encomendado pelo PSDB que alia a candidata Dilma Rousseff aos
"radicais do PT", representados por cães rottweilers.
Na campanha, distribuída
apenas na rede, o rosto de
Dilma se metamorfoseia até
virar o de José Dirceu. Na sequência, o Planalto é coberto
de tinta vermelha -alusão a
uma suposta ditadura do PT.
Passado o ringue virtual, é
a vez do rádio, "purgatório"
mais ameno do que a web.
Sem poder apelar às imagens, marqueteiros apostam
em linguagem mais simples
e vão direto ao ponto.
Um programa da semana
passada, por exemplo, pôs
Dilma como quem domou o
"apagão do FHC".
No mesmo dia, ela foi descrita na TV como a responsável por livrar "o Rio Grande
[do Sul] do racionamento de
energia que parou o país"
-mas nada do nome do ex-presidente aparecer.
Professor da USP e especialista em marketing político, Gaudêncio Torquato
acompanha o quadro eleitoral há 30 anos e nunca achou
"que agenda negativa em TV
desse resultado".
Para ele, bater de frente na
TV não pega bem com o eleitorado. Ataques ao rival podem resvalar no "efeito joão
bobo": você bate, e ele volta
para o mesmo lugar.
Aqui, valem imagens e cenas otimistas para construir
o "Brasil dos sonhos".
Bem-vindo ao "paraíso"
da propaganda eleitoral.
Não à toa, segundo o professor, Serra recuou dos ataques que vinha fazendo a Dilma. Pela primeira vez em semanas, o tucano evitou agredir a petista no programa da
última quinta-feira.
Escândalos que envolvem
o PT, como a queda de Erenice Guerra da Casa Civil e a
quebra do sigilo fiscal da filha do peessedebista, foram
explorados à exaustão em
propagandas anteriores.
VITIMIZAÇÃO
Para Torquato, pesquisas
qualitativas mostraram aos
tucanos que, ao atacar Dilma, eles corriam o risco de
transformá-la em vítima. E,
na TV, não se deve subestimar o "fator emoção".
"É o "efeito bolo". Quanto
mais [Serra] bateu, mais ela
cresceu", afirma.
Já o rádio precisa ser mais
direto, ou não prenderá a
atenção do ouvinte. "Como
não tem imagem, há dificuldade maior na compreensão.
Por isso, deve-se simplificar a
linguagem. É o veículo mais
popular", avalia Torquato.
Por isso, uma das táticas
nessa mídia é criar "personagens do povo", adotando a
informalidade de uma conversa no balcão da padaria.
ARENA ABERTA
Da internet saem as maiores alfinetadas entre campanhas. Mas essa sessão de
acupuntura eleitoral ainda
está longe de revolucionar a
cena política brasileira.
Para Torquato, a rede é um
ambiente "completamente
descomprometido de valores
e princípios".
"Existe um processo de canibalização recíproca. Um
discurso come o outro", afirma Torquato.
Ou seja, os ataques mútuos, multiplicados pela militância, acabam se anulando.
Norton Amato, diretor de
uma agência de marketing
digital especializada em política, chama esse exército político de "robozinhos que só
replicam a informação".
Amato aponta motivos
que fazem da web uma arena
aberta, como a facilidade de
publicação e o anonimato.
"É tentativa e erro. Você
pode dar 10 tiros para testar
uma tática, ver se vale a pena
levá-la para mídias mais caras. Não dá para arriscar tanto num horário mais nobre."
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