São Paulo, domingo, 26 de setembro de 2010

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A Hollywood de Dilma

Mais rica e preparada com antecedência, campanha da petista na TV usa técnicas "de cinema" e câmera que pode custar R$ 500 mil

ANA FLOR
FABIO VICTOR
DE SÃO PAULO

Se em marketing político imagem é tudo, a campanha da presidenciável Dilma Rousseff (PT) possui armas poderosas na guerra do horário eleitoral na TV.
A começar pela Red One 4K, uma câmera digital americana que filma com resolução de cinema. Com lentes e outros aparatos, pode custar R$ 500 mil.
O marqueteiro João Santana tem duas delas, e ambas têm sido usadas na propaganda de Dilma. Segundo profissionais do meio, é um dos diferenciais dos programas da coligação governista.
A equipe de TV da campanha, entretanto, afirma que a Red é um dos segredos, mas está longe de ser o único. Seu uso eficiente passa por profissionais de "primeira linha", escolhidos a dedo pelo marqueteiro meses antes do início dos programas de TV.
Desde o início, Santana pôs na cabeça que faria "cinema" na campanha. Montou sua equipe e sua parafernália com esse propósito. O planejamento se iniciou há quase um ano.
Por isso a opção pela Red, que, embora digital, recebe lentes semelhantes às de câmeras que gravam com filme de 35 mm utilizadas na sétima arte. Tem a melhor resolução possível para imagens digitais (8 milhões de pixels por quadro).
A campanha usa duas outras câmeras, Canon 5D e Sony HDX 500. A primeira também faz parte do arsenal da equipe do PSDB -que grava ainda com Sony EX3 e com Betacam Digital.
São todas câmeras que captam imagens com boa resolução, mas mais simples e mais baratas.
Só a Red, por exemplo, permite fechar planos, na ilha de edição, com alto grau de definição, sem perda da qualidade de imagem.
Para utilizar a Red, a equipe de TV de Dilma montou um sistema de ilhas de edição diferenciado. Há uma ilha exclusiva para baixar mais rapidamente as imagens feitas pela câmera. No total, o bunker de Santana em Brasília tem 10 ilhas trabalhando simultaneamente, quase 24 horas por dia.
"O João [Santana] é obsessivo nos detalhes. As imagens são impecáveis, com definição de cinema, o que fica nítido na TV e faz a diferença", afirma o publicitário Fernando Barros, da agência Propeg, gigante do mercado que tem contratos com vários partidos e governos.
O diretor de fotografia Alexandre Ermel, que trabalha para produtoras como a O2, de Fernando Meirelles, diz perceber que a campanha de Dilma "tem mais grana", porque "tem mais steady [sistema que elimina a tremedeira na gravação], locações, equipe e equipamentos de cinema mesmo".
Segundo a última prestação de contas ao Tribunal Superior Eleitoral, a campanha de Dilma e o comitê financeiro do PT declararam gastos de R$ 29 milhões com "produção de programas de rádio e TV". Do lado tucano, a despesa declarada até agora foi de R$ 11 milhões.
Trabalhar com uma Red implica montar um esquema complexo e caro, com uma equipe de filmagem maior e mais especializada e equipamentos adequados para edição e finalização.
Segundo um integrante da equipe de comunicação de Serra, a falta de recursos justificaria o fato de o equipamento não ser usado pelos tucanos.
A diretora-executiva do programa de Dilma, Lô Politi, que vem da área publicitária e do cinema, afirma que a proposta da campanha é "inovadora, moderna, diferenciada". "É muito raro que se tenha esse tipo de visão e qualidade em marketing politico", afirma.
O parceiro de Lô na finalização dos programas é o diretor de arte Marcelo Kertész.

TRILHA SONORA
Um setor que também recebe grande investimento e atenção na campanha de TV de Dilma é o da trilha sonora dos programas, nem sempre perceptível para o telespectador comum.
Cada programa tem uma trilha específica, feita, assim como no cinema, depois da montagem e edição final.
São quatro estúdios de áudio, onde são feitas as trilhas e os programas de rádio. Nas madrugadas, depois que o programa é montado, a equipe de música, coordenada por João Andrade, cria e edita a trilha sonora.
E há, em relação à campanha do principal adversário, uma diferença de planejamento: a equipe de Santana começou a gravar imagens externas três meses antes do início do horário eleitoral, quando Serra acabara de admitir que era candidato.


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