|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
A volta do tesoureiro do mensalão
Depois de assumir sozinho a culpa pelo escândalo, Delúbio Soares deve ter refiliação aprovada em reunião da cúpula nacional do PT no fim de semana
BERNARDO MELLO FRANCO
DE SÃO PAULO
Mais de cinco anos depois,
o PT prepara a volta de seu
ex-tesoureiro Delúbio Soares, um dos protagonistas do
escândalo do mensalão.
Fundador do partido e
amigo do ex-presidente Lula
desde os tempos de sindicato, ele foi o único a ser punido com a expulsão da legenda, em outubro de 2005.
Considerado um arquivo
ambulante do caso, aceitou o
castigo em silêncio, sem entregar os companheiros.
Agora, terá a fidelidade
premiada com o retorno à sigla. Seu pedido de refiliação
deve ser aprovado neste fim
de semana, em reunião da
cúpula petista em Brasília.
"O partido vai fazer justiça
a Delúbio. Ninguém erra individualmente. Os erros são
coletivos", defende Francisco Rocha, coordenador da
corrente Construindo um Novo Brasil e membro da Comissão de Ética do PT.
O ex-tesoureiro é acusado
de montar a máquina de arrecadação ilegal que, de acordo com a Procuradoria-Geral
da República, foi usada para
comprar apoio ao governo
Lula no Congresso.
Organizava o caixa em encontros clandestinos com o
publicitário Marcos Valério
de Souza em quartos de hotel
-"conversas entre amigos",
disse à Polícia Federal.
A dupla recolheu pelo menos R$ 55 milhões em recursos "não contabilizados",
distribuídos a políticos e assessores em envelopes e saques na boca do caixa.
"Tudo sob as ordens do denunciado José Dirceu", afirma o Ministério Público.
Delúbio assumiu a culpa
pelo ex-ministro, mas responde com ele no STF (Supremo Tribunal Federal) por
supostos crimes de quadrilha e corrupção ativa.
O ex-tesoureiro nega o suborno a parlamentares, mas
admite ter recebido e repassado "dinheiro não contabilizado" a aliados.
Chegou a dizer que o mensalão seria esquecido e viraria "piada de salão". Depois
abaixou o tom. Submergiu.
Nas palavras de um amigo, a eleição de Dilma Rousseff selou o fim do "sacrifício" de um militante que já
disse ter o PT em seu DNA.
Dirigentes do partido ouvidos ontem pela Folha disseram que o pedido de refiliação, avalizado por Lula, será
aprovado com folga.
"As razões que levaram o
PT a afastá-lo ainda se mantêm. Não vejo motivo para
aprovar sua volta antes do
julgamento do caso", disse o
deputado estadual gaúcho
Raul Pont, apontado como
um dos poucos dissidentes.
Nos últimos meses, o PT
reabilitou outros personagens do escândalo, como Dirceu, José Genoino e João Paulo Cunha. A volta de Delúbio,
após mais de 1.800 dias de
degredo solitário, concluirá a
fase política do resgate.
Na área penal, faltará combinar com o STF, que só deve
julgar o caso em 2012.
Texto Anterior: Judiciário: Decisão do Supremo poderá trocar pelo menos 25 deputados federais Próximo Texto: Alckmin demite Afif e reacomoda DEM no governo Índice | Comunicar Erros
|