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Ossos ocultos em SP serão investigados
Ministério Público Federal e comissão apuram se cemitérios podem esconder restos de desaparecidos políticos
Ex-administrador diz
que poço de Parelheiros
esconde ossadas; para
procuradora, elo com ditadura é uma hipótese
FLÁVIO FERREIRA
DE SÃO PAULO
O Ministério Público Federal e a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos
Políticos vão investigar se os
cemitérios paulistanos de Parelheiros e Vila Formosa abrigam vítimas da repressão da
ditadura militar (1964-1985).
A procuradora da República Eugênia Fávero requisitou
à prefeitura que o cemitério
de Parelheiros fique lacrado
até passar por uma perícia.
O pedido foi feito após denúncia de um ex-funcionário
de que lá existe um ossário
clandestino, com restos mortais não identificados.
No cemitério da Vila Formosa, as buscas terão como
ponto de partida documentos obtidos pela família do
desaparecido político Virgílio Gomes da Silva.
Em depoimento prestado
na Procuradoria em fevereiro, o ex-administrador do cemitério de Parelheiros Laércio Ezequiel dos Santos afirmou que no local há um poço
com centenas de ossadas
sem identificação.
POÇO DE OSSOS
Santos declarou que, logo
após assumir a gerência do
cemitério, em 2007, descobriu que havia uma alçapão
embaixo de sua mesa na sala
da administração.
Ele disse que, então, consultou funcionários mais antigos que ele e foi informado
de que o poço era usado há
décadas como depósito de
ossadas não identificadas.
"Depois que descobri o poço, nunca mais consegui dormir direito", afirmou em entrevista à Folha.
Segundo ele, era comum
funcionários encontrarem
até três ossadas em sepulturas cujos registros apontavam a presença de um corpo,
nos trabalhos de abertura de
covas para exumação.
Quando isso acontecia,
disse ele no depoimento, a
praxe no local era colocar no
poço do escritório as ossadas
sem identificação. O ex-administrador disse que avisou
a direção do Serviço Funerário de São Paulo sobre o problema, mas nada foi feito.
Ele próprio afirmou ter depositado no poço cerca de 25
ossadas sem registro.
CIMENTADO
Santos disse que, no início
de 2008, resolveu tapar o poço e construiu um piso sobre
o alçapão. Ele foi exonerado
em outubro passado.
Antes de atuar no serviço
público, Santos foi líder de
perueiros na zona sul, e chegou a ser acusado de promover a violência em protestos
contra a Prefeitura. Ele ficou
preso por três meses por conta dessa suspeita.
Segundo a procuradora
Fávero, as descrições feitas
pelo ex-administrador coincidem com situações verificadas no cemitério de Perus,
onde foram encontrados corpos de vítimas da ditadura.
A procuradora também
afirmou que as informações
de Santos merecem ser investigadas porque há relatos de
ex-presos políticos sobre a
montagem, no bairro de Parelheiros, de um sítio, conhecido como 31 de março.
Nesse local, as Forças Armadas teriam torturado e
matado opositores.
Os trabalhos de exame de
ossadas deverão ser realizados pela Polícia Federal, por
meio de um convênio com a
comissão de desaparecidos.
Segundo o presidente da
comissão, Marco Antônio
Barbosa, a atuação em São
Paulo representa um esforço
para ampliar os trabalhos da
comissão, hoje concentrados
na região do Araguaia.
O secretário de Serviços
Alexandre de Moraes informou que apurará "com rigor" a denúncia e pedirá
apoio da Polícia Militar para
que o poço seja aberto hoje
ou amanhã. A Prefeitura tem
colaborado com as as investigações de ossários clandestinos, segundo a nota.
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