São Paulo, domingo, 27 de junho de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JANIO DE FREITAS

Assombração eleitoral


Pode-se falar de tendências evidentes, mas nenhum candidato está sentenciado à sua situação de hoje


A ASSOMBRAÇÃO QUE se lançou sobre José Serra e o acompanhará por bastante tempo, a menos que um exorcismo eventual e alheio a expulse, nasceu e criou-se nas eleições passadas. É a constância com que a perda de uma dianteira fácil, nas disputas para Presidência, resulta em dificuldade insuperável de reconquistá-la apesar de todos os esforços. Não é regra, mas uma persistência eleitoral que não se abate por suas falhas e que nem sequer respeita fronteiras, com suas tantas repetições também na França, nos Estados Unidos e outros.
Tão mais veloz seja a ultrapassagem, parece ser maior a atração exercida pelo candidato ascendente sobre os eleitores, como um efeito de sucção provocado pelo deslocamento. Nesses casos, em geral não o beneficia apenas a definição favorável de indecisos e apáticos, dando-se mesmo adesões de apoiadores da candidatura em crise.
É o que sugere parte dos números da concomitante queda de Serra/ subida de Dilma, vistos pela ótica do Ibope. Caso surpreendente da rápida inversão de índices no Sudeste, o território mais propício ao recente ex-governador do maior eleitorado estadual, e no Sul.
As novas opções dos eleitores não são a causa única das alterações atuais na disputa. José Serra e o comando do PSDB deram, e até agora não sustaram, contribuição expressiva. A par da falta de um sentido, uma ideia própria, capaz de justificar a candidatura aos olhos do eleitorado, a (não) escolha do vice é muito sugestiva.
A protelação não foi utilizada para a montagem de uma composição produtiva. Serviu apenas para alimentar a incapacidade de decisão e o aumento do problema. Com a proximidade do prazo final, a perturbação caiu no patético.
Não foi outra coisa a hipótese de fazer da presidente do Flamengo, a vereadora carioca Patrícia Amorim, a candidata a vice-presidente da República. A suposição foi de que assim seriam atraídos para Serra os milhões de torcedores do Flamengo por todo o país, quando a probabilidade a considerar seria a de afastamento dos torcedores de todos os outros clubes. E ainda os do Flamengo, tendentes a não perdoar o sequestro de quem, afinal, faz uma bela presidência no clube.
A pretensa solução não foi muito diferente, como elaboração política. Escolher o senador paranaense Alvaro Dias com o fim de evitar que seu irmão, senador pedetista Osmar Dias, alie-se a PT e PMDB para candidatar-se ao governo estadual, e trabalhe por Serra, é como reduzir o país ao tamanho do Paraná.
O eleitorado paranaense é numeroso e os irmãos Dias podem, em tese, carrear bom número de votos, mas a solução regional levaria ao mesmo resultado e a entrega da vice de Serra nada produz contra os seus problemas nos demais Estados.
A campanha, propriamente, está por começar. No atual estágio da disputa, pode-se falar de tendências evidentes, mas nem a corrida de Dilma para o alto está consolidada, nem faltam a Serra oportunidades de buscar o assento perdido.
Entre os que apresentam eleitorado, difícil, e tudo indica que injusta, é a posição de Marina Silva, com a boa companhia de seu vice Guilherme Leal. Nem esses dois, porém, estão sentenciados à sua situação de hoje. Alguma assombração talvez os ronde, mas, nas atuais circunstâncias, a mais persistente delas invade a candidatura de Serra.


Texto Anterior: Militares e órgãos defendem equipamento próprio
Próximo Texto: PSDB mantém vice, mas DEM resiste
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.