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Candidatos distorcem dados em debate
Dilma e Serra cometem erros sobre transposição do São Francisco e mudança de nome da Petrobras para Petrobrax
Proposta do tucano de desmatamento zero é considerada improvável e utópica e desagrada
aos aliados ruralistas
DE SÃO PAULO
DE BRASÍLIA
DO RIO
O clima de plebiscito entre
os governos Luiz Inácio Lula
da Silva e Fernando Henrique Cardoso levou os dois
presidenciáveis a distorcer
dados sobre a gestão tucana
no debate da TV Record.
Ao criticar o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), José Serra (PSDB)
afirmou que uma de suas vitrines, a transposição do rio
São Francisco, foi "definida"
por FHC. Ele prometeu, mas
não tirou a obra do papel.
Ao discursar contra as privatizações, Dilma Rousseff
(PT) disse que FHC trocou o
nome da Petrobras para Petrobrax para facilitar a venda
da empresa a estrangeiros. A
mudança chegou a ser anunciada, mas não ocorreu.
As distorções começaram
no primeiro bloco do debate,
quando Serra chamou o PAC
de "lista de obras" e acusou
Lula de se apropriar de realizações do antecessor.
"A transposição foi definida no governo passado, do
Fernando Henrique. Ela [Dilma] toma como obra do PAC.
Foi ela que teve a ideia", disse, em tom de ironia.
A ideia não é de tucanos
nem de petistas: remonta aos
tempos do Império, quando
dom Pedro 2º imaginou desviar o São Francisco para aliviar a seca no sertão.
FHC prometeu a obra em
1994 e 1998 e chegou a inclui-la no programa Avança Brasil, similar ao PAC. O projeto
entrou no Orçamento da
União de 2001, com previsão
de R$ 200 milhões em verbas, mas não foi executado.
O tucano formalizou a desistência em julho daquele
ano, alegando que usaria o
dinheiro para incentivar a
agricultura familiar. Na prática, pesou o medo de esvaziar o rio e reduzir a produção
de hidrelétricas em tempos
de racionamento de energia.
Dilma caiu no mentirômetro ao falar da Petrobras:
"Olha, candidato Serra, você
ficou caladinho quando mudaram o nome Petrobrax,
substituindo o "bras" de Brasil. Naquela época, chegaram ao cúmulo de tirar até a
bandeira do Brasil, BR, lá do
nome da Petrobras."
Na verdade, o governo
FHC planejou rebatizar a estatal para Petrobrax, mas desistiu da ideia logo depois de
anunciá-la, sob críticas de
oponentes e aliados.
A polêmica começou em
26 de dezembro de 2000,
quando o então presidente
da empresa, Henri Phillipe
Reichstul, defendeu a mudança para facilitar a internacionalização da petroleira.
Ele chegou a divulgar o
que seria a nova logomarca,
feita pelo escritório de design
Und SC por R$ 700 mil. A alteração havia sido aprovada
pelo Conselho de Administração da companhia e teria
recebido respaldo de FHC.
Menos de 30 dias depois
de anunciado, o projeto foi
totalmente abortado.
PROMESSÔMETRO
Serra defendeu o desmatamento zero, sem dar detalhes, numa tentativa de atrair
eleitores de Marina Silva
(PV). A ideia é considerada
improvável ou utópica.
O plano de Marina propunha zerar o "desmatamento
líquido" na Amazônia até
2014 -ou seja, ter uma devastação equivalente ao que
se ganha com a regeneração
natural da floresta. Isso seria
possível acelerando a meta já
existente de reduzir o desmatamento em 80% até 2020.
Outra ideia, das ONGs
Greenpeace e ISA, é zerar o
desmatamento em sete anos.
Para isso, seria necessário investir R$ 1 bilhão por ano em
fiscalização e incentivo a atividades sustentáveis.
O candidato do PSDB recitou o slogan ambientalista,
mas não explicou o que faria
para realizar a ideia. A presença de ruralistas como a
presidente da CNA, Kátia
Abreu (DEM-TO), também joga contra a promessa.
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