São Paulo, quarta-feira, 27 de outubro de 2010

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ANÁLISE

Dilma e Serra apostam na confusão para tentar vencer

PETISTA ENTOA O DISCURSO DE QUE SER CONTRA A PETROBRAS É SER CONTRA O BRASIL; TUCANO EVITA DISCUTIR EXPLORAÇÃO DO PRÉ-SAL

VALDO CRUZ
DE BRASÍLIA

Na disputa pelos dividendos do filé mignon e da carne de pescoço, Dilma Rousseff e José Serra perdem uma boa chance de debater o futuro do setor de petróleo no Brasil e apostam na confusão para vencer o adversário.
Enquanto a petista entoa e estimula o batido discurso nacionalista de que ser contra a Petrobras é ser contra o Brasil, o tucano escapa pela tangente e evita aprofundar a discussão sobre a exploração do pré-sal no país.
Dilma, na ânsia de acuar seu oponente, escorrega e reduz a importância das atuais reservas de petróleo brasileiro, perto dos 14 bilhões de barris -classificadas por ela de carne de pescoço por ser um óleo mais pesado.
Não tivesse apenas como objetivo abater o tucano, reconheceria que foram essas reservas, exploradas em boa parte graças ao modelo tucano de concessões, que afastaram o país da dependência do óleo importado.
Passou, assim, a imagem de quem não reconhece que foi a carne de pescoço de ontem que garantiu o filé mignon de amanhã -a definição dada pela candidata para o petróleo de melhor qualidade e maior quantidade das reservas do pré-sal.
Serra, do seu lado, tacha de privatização as concessões para exploração de petróleo dadas a empresas estrangeiras no governo Lula. Ratifica, indiretamente, o mantra dilmista de que o tucanato quer privatizar o pré-sal ao defender a manutenção do modelo atual.
O tucano evita, por sinal, assumir posições claras sobre o novo modelo de exploração de petróleo defendido pelos petistas, o de partilha de produção.
Diz que não vai privatizar a Petrobras, mas não esclarece se fecha com seu partido, contrário à proposta do governo Lula.
Há quem diga que Serra topa a mudança de modelos por avaliar que outros países adotaram caminhos semelhantes ao descobrir reservas de grande potencial como as do pré-sal.
Não se sabe, porém, se apoia que a estatal seja operadora única do pré-sal e sócia de pelo menos 30% de todos os campos.
O mercado duvida que a Petrobras tenha fôlego para explorar o pré-sal num ritmo que afaste o risco de o "bilhete premiado" (como o presidente Lula chamou as reservas) de hoje se transformar num mico amanhã.
Afinal, diante da crise ambiental global, pesquisadores travam uma corrida na busca de reduzir a dependência mundial dos combustíveis fósseis.
Se algo revolucionário surgir no médio prazo, parte do tesouro do pré-sal pode perder seu valor.


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