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Propostas sem pontaria
Especialistas dizem que planos de Dilma e Serra não acabam com violência e entrada
de armas e drogas no país
Vitor Silva - 14.out.2010/JB Digital
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Policiais do Bope ocupam o morro dos Macacos, no Rio, para instalar mais uma UPP
RICARDO WESTIN
ROGERIO PAGNAN
DE SÃO PAULO
Nem as UPPs (Unidades de
Polícia Pacificadora) nem os
Vants (veículos aéreos não
tripulados) prometidos por
Dilma Rousseff (PT).
Tampouco a Guarda Nacional e o Ministério da Segurança Pública idealizados
por José Serra (PSDB).
Ao contrário do que propagandeiam os candidatos à
Presidência, especialistas em
segurança dizem que nenhuma das promessas é capaz de
acabar com a violência ou
impedir a entrada de drogas
e armas no país.
Para os especialistas, os
pontos essenciais a serem
discutidos -como uma reforma do próprio modelo de segurança pública no Brasil-
foram deixados de lado.
"Se executadas todas juntas, essas promessas provavelmente vão ajudar a criar
um ambiente mais seguro,
mas, no limite, não vão resolver o problema", diz o sociólogo Renato Sérgio de Lima,
da ONG Fórum Brasileiro de
Segurança Pública.
Uma das principais propostas de Dilma é levar a todo o país as UPPs, unidades
policiais montadas em favelas dominadas por facções
criminosas. A polícia se instala, expulsa os bandidos e
restabelece a ordem.
Dilma se ancora no relativo sucesso do programa no
Rio. Para especialistas, porém, o modelo é muito local.
"Só no Rio existem lugares
onde a polícia não consegue
entrar e permanecer. Não é à
toa que precisa do caveirão
[veículo blindado] para subir
o morro", explica o sociólogo
Arthur Trindade Costa, do
Núcleo de Estudos sobre Violência e Segurança da UnB
(Universidade de Brasília).
"É um reducionismo, uma
distorção pensar que Brasília, Porto Alegre, Belo Horizonte e Recife precisam de
UPP", acrescenta.
FECHAR A FRONTEIRA
A promessa tucana da
Guarda Nacional e a petista
dos aviões não tripulados
têm como objetivo fiscalizar
as fronteiras do país.
Para Ignacio Cano, sociólogo do Laboratório de Análise da Violência da Uerj (Universidade do Estado do Rio
de Janeiro), uma política
mais acertada é investir "na
investigação para desarticular o tráfico".
"Não sou contra patrulhamento, mas é uma fantasia a
ideia de que muita gente patrulhando acaba com o tráfico de drogas e armas. É impossível fechar uma fronteira
como a brasileira", diz.
A promessa de Serra de
criar o Ministério da Segurança Pública, na avaliação
dos especialistas, também
não elimina a violência e o
crime organizado.
"O ministério é uma medida que não me parece central", diz Theodomiro Dias
Neto, professor de direito da
Fundação Getulio Vargas.
"Criando um ministério ou
mantendo a secretaria nacional [ligada ao Ministério da
Justiça], o importante é que
haja competências claras e
uma política federal voltada
para os Estados."
No Brasil, a execução da
maior parte das políticas de
segurança -como construção de presídios e manutenção das polícias Civil e Militar- não cabe ao governo federal, mas aos Estados. À
União compete basicamente
induzir políticas nacionais e
enviar verbas aos Estados.
"O Ministério da Segurança talvez crie uma unidade
de ação no governo, mas por
si só não é solução", diz Paulo Sette Câmara, delegado federal aposentado e ex-secretário de Segurança do Pará.
Procurada pela Folha, a
equipe de Serra disse que
não teria tempo hábil para
comentar as críticas. A equipe de Dilma não respondeu.
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