São Paulo, domingo, 28 de novembro de 2010 |
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"PT mudou a ponto de ficar quase irreconhecível", diz cientista política
Wendy Hunter, da Universidade de Austin (EUA), escreveu livro sobre transformações do partido
Folha - A sra. acaba de publicar um livro em que estuda as
transformações por que passou o PT desde 1989. Quais as
principais mudanças?
A eleição de Dilma Rousseff
também faz parte desse "pacote" de mudanças? Lula foi a principal figura do PT durante todo esse tempo. Qual sua participação nesse processo de transformação? Lula teve um papel central na administração e na promoção de mudanças no PT. Transformações programáticas precisam encontrar apoio não só no eleitorado, mas também na legenda. Lula foi crucial ao encorajar o partido a ouvir mais o eleitorado e suas aspirações. Ao mesmo tempo, foi sensível às lutas e às dinâmicas internas do PT e soube conduzi-las de forma a apoiar um caminho moderado. O que podemos esperar do PT durante o governo Dilma? As tendências mais radicais ganharão mais espaço? Acho que o PT está bem firme nas mãos dos moderados. Se olharmos as eleições internas do partido, veremos que não parece haver muito apoio às opções radicais, o que sugere que boa parte da base tornou-se moderada junto com os líderes. Os movimentos sociais também parecem bastante desmobilizados. Com a penetração de programas como o Bolsa Família, organizações como o MST já não conquistam adeptos como antes. Dilma, com suas tendências estatizantes, provavelmente não reduzirá o tamanho do Estado, o que encolheria os postos do partido.
As transformações foram positivas ou negativas?
Um pouco de cada.
De um lado, o sistema político perde por não ter um partido que se apegue à bandeira de um governo mais ético.
Parece preocupante que a
eleição de Dilma tenha se baseado tanto no uso da máquina pelo presidente Lula.
Por outro, a transformação
do PT se deu junto com e contribuiu para a consolidação
da democracia no Brasil.
O PT no poder continuou e
aprofundou tendências de
redução da pobreza e da desigualdade social. O ponto é:
talvez um governo de esquerda mais radical pudesse ter
feito mais, mas as conquistas
da esquerda moderada serão
mais sustentáveis.
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