São Paulo, sexta-feira, 29 de julho de 2011

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Insensatez de EUA e Europa são "ameaça global", afirma Dilma

Presidente pede que países sul-americanos discutam medidas conjuntas para enfrentar efeitos da crise externa

Governo prevê embate mais longo sobre teto da dívida dos EUA, mas duvida que país anuncie um calote em credores

FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A LIMA
SHEILA D'AMORIM
NATUZA NERY
EDUARDO CUCOLO

DE BRASÍLIA

A presidente Dilma Rousseff afirmou ontem, em Lima, que a "insensatez" e a "incapacidade política" dos Estados Unidos e da União Europeia para resolver seus problemas econômicos geram uma "ameaça global".
Em reunião de presidentes de nove países da Unasul (União Sul-Americana de Nações), ela defendeu que os governos do continente acertem uma estratégia comum para enfrentar a crise.
"Esse quadro onde a insensatez é a regra, e a marcha da insensatez parece ser o caminho, só reforça a necessidade de nossa união", afirmou Dilma a presidentes de 9 dos 12 países da Unasul.
Na semana que vem, os ministros da Fazenda e os presidentes dos Bancos Centrais do bloco se reunirão em Lima para discutir medidas conjuntas. Nos dias 10 e 11 de agosto haverá novo encontro, em Buenos Aires.
Ontem, Dilma reclamou do "mar extraordinário de liquidez" que flui de países desenvolvidos aos emergentes em busca de rentabilidade e provocam "desequilíbrio cambial". Também atacou os produtos dos países ricos que "alagam" a região.
"Temos de nos defender do imenso, do fantástico, do extraordinário mar de liquidez que se dirige às nossas economias buscando a rentabilidade que não tem nas suas", disse ela.
"Não podemos incorrer no erro de comprometer tudo que conquistamos (...) pelos efeitos da conjuntura internacional desequilibrada."
Em Brasília, a equipe econômica aposta que a incerteza nos EUA vai se prolongar por muitos meses, mas acredita dispor instrumentos necessários para proteger a economia brasileira.
O governo duvida que o cenário mais catastrófico se materialize, com os americanos dando calote nos credores da sua dívida e disseminando pânico no mercado. Na avaliação da equipe econômica, o cenário mais provável indica o prolongamento do embate político entre o presidente Barack Obama e seus adversários até o ano que vem.
O governo acredita que um dos resultados desse embate será um aperto fiscal rigoroso nos EUA, com reflexos sobre o mundo inteiro.
O Ministério da Fazenda anunciou anteontem pacote de medidas para inibir operações cambiais de caráter especulativo e conter a valorização do real.
O governo se preocupa com os riscos tomados por bancos e empresas que aproveitaram o dólar barato para se endividar captando recursos no exterior e lucrar com a especulação.
A equipe econômica acredita que o país está mais preparado para se defender de um choque externo hoje do que na crise financeira de 2008, e poderá recorrer aos mesmos instrumentos.
Se faltar dinheiro, o governo poderia liberar parte dos R$ 410 bilhões em recursos dos bancos retidos pelo Banco Central. No início da crise de 2008, o BC dispunha de R$ 240 bilhões para usar dessa maneira.
Além disso, o governo tem hoje US$ 344 bilhões em reservas internacionais, volume de recursos 70% maior que o disponível às vésperas da crise de três anos atrás.
O problema é que quase dois terços dessas reservas estão aplicadas em títulos dos EUA, que podem perder valor se Obama não chegar a um acordo com a oposição.

Colaborou ANA FLOR, de Brasília


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