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"Sangria" de Dilma chega a 6 mi de votos
Nova classe C concentra a maioria dos eleitores que desembarcaram da candidatura do PT nas duas últimas semanas
Marina Silva foi a maior beneficiada pela queda da petista e conquistou 4 mi de eleitores; Serra ganhou cerca de 2 mi
FERNANDO CANZIAN
DE SÃO PAULO
A candidata do PT à Presidência da República, Dilma
Rousseff, perdeu cerca de 6
milhões de votos nas duas últimas semanas.
Mais da metade dessa
"sangria" (cerca de 3,6 milhões de votos) se concentrou exatamente na parcela
da população mais beneficiada pelas políticas social e
econômica do governo Lula:
a chamada nova classe C.
Segundo o Centro de Políticas Sociais (CPS) da FGV-RJ, quase 30 milhões de brasileiros ascenderam à classe
C a partir de 2003.
A candidata do PV à Presidência, Marina Silva, foi a
maior beneficiada por essa
migração de votos. Ela conquistou cerca de 4 milhões de
eleitores no período. Serra
ganhou cerca de 2,3 milhões.
Os números foram calculados com base em pesquisa
Datafolha divulgada ontem.
Nela, Dilma tem 46% das intenções de voto. Serra fica
com 28%; e Marina, 14%.
A pesquisa tem margem de
erro de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. Isso explica diferenças
nos resultados conforme os
cortes feitos, por renda ou escolaridade, por exemplo.
As duas últimas semanas
foram marcadas pelas denúncias de quebra de sigilos
fiscais de tucanos e de seus
familiares, pela queda da ex-braço direito de Dilma na Casa Civil, a ex-ministra Erenice
Guerra, e por uma profusão
de críticas da petista e do presidente Lula à imprensa.
A perda desses cerca de 6
milhões de eleitores (em um
total de 135 milhões) não garante mais a vitória de Dilma
no primeiro turno.
Esse era o cenário mais
provável no início de setembro. Agora, ela tem 51% dos
votos válidos de que precisa.
Para não haver segundo turno, Dilma necessita ter 50%
dos válidos mais um voto.
Considerando os limites
da margem de erro, ela pode
ter hoje 49% ou 53%.
Nas duas últimas semanas, Dilma perdeu eleitores
ou oscilou para baixo em todos os estratos da população.
No geral, o maior desembarque de sua candidatura se
deu entre os eleitores com
renda familiar mensal entre 2
e 5 salários mínimos (R$
1.020 e R$ 2.550). Cerca de
34% dos eleitores estão incluídos nessa faixa.
A classe de renda entre 2 e
5 salários mínimos é mais representativa no Sudeste
(40%) e no Sul (37%). Ela é
bem menor no Nordeste
(21%) -onde Dilma ainda lidera com enorme vantagem.
Para o CPS/FGV, fazem
parte da nova classe C os que
têm renda familiar mensal
entre R$ 1.126 e R$ 4.854.
"Os que ascendem em termos econômicos tendem a ficar mais conservadores, assim como passam a conquistar mais escolaridade", diz
Marcelo Neri, coordenador
do centro da FGV.
"O Brasil vem apresentando o melhor desempenho
econômico em termos relativos e absolutos dos últimos
tempos. O impacto sobre Dilma é algo que vem de fora do
bolso", afirma Neri, em referência às denúncias e casos
de corrupção no governo.
Para Alessandro Janoni,
diretor de pesquisas do Datafolha, é nessa "classe emergente" que Dilma perde mais
em números absolutos.
"Pois ela é bem maior do
que a classe média tradicional, com alta renda e escolaridade, mas de tamanho bastante limitado no Brasil."
Em termos de escolaridade, a maior perda para Dilma
se deu entre eleitores que
têm ensino médio (38% do
total). Dilma perdeu cerca de
2,5 milhões de votos aí.
Desse total, cerca de 2 milhões de eleitores migraram
em proporções iguais para as
candidaturas Serra e Marina.
Os demais engordaram o bloco dos indecisos.
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