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ANÁLISE
Escândalos não têm importância na vida diária dos eleitores
ALBERTO CARLOS DE ALMEIDA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Recordar é viver. Na campanha presidencial de 1994,
Rubens Ricupero, então ministro da Fazenda, deixou o
cargo no início de setembro
por causa de diálogo em off
com o jornalista Carlos Monforte da Rede Globo.
Em função de uma falha
técnica, a conversa foi captada por quem recebia o sinal
da Globosat por meio de antenas parabólicas:
"Monforte - E como vai a
campanha, ministro?
Ricupero - A campanha está ótima, muita gente que
não votaria no Fernando por
causa do PFL, agora vai votar
por minha causa. (...)
Monforte - Dizem que o Lula está subindo.
Ricupero - Se ele está subindo, então precisamos de
um espaço no "Fantástico",
porque não adianta ficar falando do Real só nos programas de telejornalismo.
Monforte - E depois das
eleições, o que acontece?
Ricupero - Depois de 15 de
novembro, vamos ter de reprimir greves que vão ocorrer
no Brasil. Vamos soltar a polícia sobre os grevistas. [...] O
que é bom a gente fatura, o
que é ruim, esconde."
O PT colocou este episódio
exaustivamente em sua propaganda eleitoral. O efeito
que teve sobre o favoritismo
de Fernando Henrique foi
nulo. O PT depositou esperanças de que isso mudaria o
destino da campanha, o que
não se concretizou.
Em 1998, foi o evento no
qual Fernando Henrique afirmou que "todo aposentado é
vagabundo", em 2006 foram
os aloprados. Nenhum destes eventos alterou o que já
estava configurado: o franco
favoritismo de quem já liderava nas pesquisas.
A eleição de 2010 entrará
para história, dentre outros
motivos, como sendo a eleição na qual os tucanos depositaram as suas maiores esperanças nos escândalos da
quebra do sigilo fiscal da filha do Serra e do tráfico de influência de Erenice Guerra.
E mais uma vez, nada terá
ocorrido. Mantenho a minha
previsão de vitória de Dilma
Rousseff ou no primeiro ou
no segundo turno.
A previsão se sustenta numa verdade simples: quem
acha o governo ótimo ou
bom vota maciçamente na
candidata do governo. A avaliação do governo Lula é excepcionalmente positiva:
80% o consideram ótimo ou
bom. É algo raro na história.
É praticamente impossível
que, nessas condições, o governo perca a eleição. Ninguém segura uma tsunami
de 80% de aprovação, nem
mesmo os descaminhos de
Erenice Guerra.
Em 2006, os 50% de ótimo
e bom de Lula foram suficientes para evitar uma reviravolta da eleição em função
do escândalo dos aloprados.
Os escândalos de corrupção não têm importância na
vida diária do eleitor. O aumento do consumo tem.
ALBERTO CARDOS DE ALMEIDA é cientista
político e diretor do instituto Análise
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