São Paulo, quarta-feira, 29 de setembro de 2010

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ANÁLISE

Escândalos não têm importância na vida diária dos eleitores

ALBERTO CARLOS DE ALMEIDA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Recordar é viver. Na campanha presidencial de 1994, Rubens Ricupero, então ministro da Fazenda, deixou o cargo no início de setembro por causa de diálogo em off com o jornalista Carlos Monforte da Rede Globo.
Em função de uma falha técnica, a conversa foi captada por quem recebia o sinal da Globosat por meio de antenas parabólicas:
"Monforte - E como vai a campanha, ministro?
Ricupero - A campanha está ótima, muita gente que não votaria no Fernando por causa do PFL, agora vai votar por minha causa. (...)
Monforte - Dizem que o Lula está subindo.
Ricupero - Se ele está subindo, então precisamos de um espaço no "Fantástico", porque não adianta ficar falando do Real só nos programas de telejornalismo.
Monforte - E depois das eleições, o que acontece?
Ricupero - Depois de 15 de novembro, vamos ter de reprimir greves que vão ocorrer no Brasil. Vamos soltar a polícia sobre os grevistas. [...] O que é bom a gente fatura, o que é ruim, esconde."
O PT colocou este episódio exaustivamente em sua propaganda eleitoral. O efeito que teve sobre o favoritismo de Fernando Henrique foi nulo. O PT depositou esperanças de que isso mudaria o destino da campanha, o que não se concretizou.
Em 1998, foi o evento no qual Fernando Henrique afirmou que "todo aposentado é vagabundo", em 2006 foram os aloprados. Nenhum destes eventos alterou o que já estava configurado: o franco favoritismo de quem já liderava nas pesquisas.
A eleição de 2010 entrará para história, dentre outros motivos, como sendo a eleição na qual os tucanos depositaram as suas maiores esperanças nos escândalos da quebra do sigilo fiscal da filha do Serra e do tráfico de influência de Erenice Guerra.
E mais uma vez, nada terá ocorrido. Mantenho a minha previsão de vitória de Dilma Rousseff ou no primeiro ou no segundo turno.
A previsão se sustenta numa verdade simples: quem acha o governo ótimo ou bom vota maciçamente na candidata do governo. A avaliação do governo Lula é excepcionalmente positiva: 80% o consideram ótimo ou bom. É algo raro na história.
É praticamente impossível que, nessas condições, o governo perca a eleição. Ninguém segura uma tsunami de 80% de aprovação, nem mesmo os descaminhos de Erenice Guerra.
Em 2006, os 50% de ótimo e bom de Lula foram suficientes para evitar uma reviravolta da eleição em função do escândalo dos aloprados.
Os escândalos de corrupção não têm importância na vida diária do eleitor. O aumento do consumo tem.


ALBERTO CARDOS DE ALMEIDA é cientista político e diretor do instituto Análise


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