São Paulo, domingo, 30 de janeiro de 2011

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OPINIÃO

Lula, Dilma, Seinfeld e o fantasma de George Carlin

LUIZ GUILHERME PIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Talvez o fantasma de George Carlin -na forma como foi apresentado por Jerry Seinfeld- venha a se insinuar nas análises que se façam sobre o governo de Dilma Rousseff por um bom tempo. Talvez também venha a acompanhar a presidente. Mas creio que tenderá a ser de forma predominantemente negativa no caso das análises e poderá ser motivadora ou aterradora no caso de Dilma.
Pode ser que você conheça o George Carlin. Eu não. Só por meio do artigo do Seinfeld, publicado em 2008 por ocasião da morte do primeiro, a quem o criador da melhor série que já vi chama de "brilhante", "um monstro" do humor. No artigo, Seinfeld diz que ele próprio e todos os comediantes que conhece, ao criar algum número ou piada, tiveram sempre que ouvir: "Carlin já fez isso".
Dilma terá que ouvir: "Lula já fez isso" ou "Lula não fez isso" ou "Lula não faria ou faria dessa ou daquela forma".
O peso e a importância de Lula na história recente do Brasil e a popularidade com que deixou a Presidência o manterão como referência para qualquer outro presidente.
No caso dos analistas, tem predominado a leitura de que, se Dilma faz algo diferente de Lula, está dando "bons sinais". Se o repete, está errando. No primeiro caso, enfatiza-se sua discrição; no segundo, critica-se a política do salário mínimo. A toada deverá seguir sendo essa.
Já a presidente poderá se complicar se vir as coisas dessa forma -se ficar se cobrando sempre se deve ou não deve fazer o que Lula fez.
Virará ela a fantasma, ausente, penada. Lula assumirá a cena, de pé no palco, vivo e comandando a plateia. Se, diferentemente disso, fizer de Lula a referência para que, como diz Seinfeld de Carlin, seu "brilhantismo gere dezenas de grandes comediantes", uma vez que todos estes tiveram que usar as criações de Carlin para lapidar, inventar, transformar e também repetir sem perder a identidade -então Dilma terá assumido seu lugar. Como Seinfeld. Um fecho original para este texto seria dizer que é tal o peso de Lula que, por mais bem-sucedido que seja o governo de Dilma, quando ele terminar e ela for para casa, com, sei lá, 80% de popularidade, elegendo seu sucessor, terá ainda que ouvir: "Lula já fez isso". Mas não é. Seinfeld já fez isso no artigo dele.

LUIZ GUILHERME PIVA é diretor da LCA Consultores. Publicou "Ladrilhadores e Semeadores" (ed. 34) e "A Miséria da Economia e da Política" (Manole).


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