São Paulo, domingo, 30 de janeiro de 2011 |
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ELIO GASPARI A OAB volta a flertar com o voto de lista
DENTRO DE ALGUMAS semanas, o Conselho da Ordem dos Advogados do Brasil apreciará o relatório de um seminário que organizou para discutir a reforma política. Nele reapareceu, em grande estilo, a proposta de adoção do voto de lista para a escolha dos deputados. Pelo sistema atual, na eleição de 2006, um cidadão votou em Delfim Netto e elegeu Michel Temer. Pelo voto de lista, o eleitor simplesmente perde o direito à escolha nominal de seu candidato. Fica obrigado a votar num partido, e irão para a Câmara os candidatos listados pela caciquia, na ordem que ela tiver estabelecido. O relatório dos doutores argumenta que só 10% dos deputados chegam à Câmara tendo atingido a marca necessária para assegurar-lhes a cadeira. Os demais elegem-se com os votos dos outros, como sucedeu em São Paulo com os partidos coligados ao palhaço Tiririca. Tudo bem, mas fica uma questão: 100 % dos eleitores votam no candidato que preferiram. Esse direito querem tirar à patuleia. Quem quis votou em Delfim e quem quis votou em Temer, assim como outros decidiram-se por Tiririca. É o jogo jogado. Quando os generais quiseram qualificar os votos, deu no que deu. Em 1969, eles descobriram que o voto de um general que comandava uma mesa não valia o mesmo de um colega que comandava uma tropa. A Ordem dos Advogados do Brasil é a guilda dos advogados brasileiros. Há profissionais que gostam do sistema atual, outros preferem as listas, assim como há partidários das diversas modalidades de voto distrital. Por que a Ordem pode pretender falar em nome de todos em assuntos estranhos à profissão? Isso, fazendo-se de conta que todos os advogados são democratas, o autor do Ato Institucional nº 5, Luis Antonio da Gama e Silva, era veterinário, e não ex-diretor da Faculdade de Direito do largo São Francisco. Seu sucessor, Alfredo Buzaid, que também dirigiu a faculdade, seria astrônomo. O AI-5 vigorou por dez anos, metade desse tempo, com os dois doutores no Ministério da Justiça. Além de um vício de representatividade, há nessa iniciativa a marca do partidarismo. Em 2007, com o apoio expresso da caciquia petista açoitada pelo mensalão, a OAB já insinuou seu patrocínio ao voto de lista. Depois a sugestão foi arquivada. Mais: a Câmara dos Deputados já rebarbou essa proposta em duas ocasiões. Sobra uma bonita campanha: enquanto as seccionais da OAB são eleitas pelo voto direto dos advogados, sua direção nacional é escolhida por um conselho. A Ordem podia organizar outro seminário, para discutir uma palavra de ordem com a qual escreveu uma das mais belas páginas de sua história: "Diretas-Já". ECO DO PLANALTO Ecoa por Brasília frase ouvida pelos caciques do PMDB que foram ao Planalto para reclamar da partilha de cargos e ouviram um diagnóstico do desempenho de um de seu postulantes: "Isso que está aqui é caso de cadeia". ECO DO PMDB Ecoa no Planalto uma frase do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ex-presidente da falecida Telerj (governo Collor), da Companhia Estadual de Habitação do Rio (governo Garotinho) e atento observador da administração de Furnas (governo Lula), reclamando dos petistas: "É impressionante o instinto suicida desses caras. (...) Quem com ferro fere com ferro será ferido". A choldra ferrada torce para que todo mundo saia ferido. ELETROSURINAME Na tarde da última quinta-feira, a Eletropaulo deixou uma parte da região da avenida Paulista sem energia durante cinco horas. Até aí, tudo bem, mas parece que a EletroSuriname tem um plano para queimar equipamentos da freguesia. Em duas ocasiões, a energia voltou, religou tudo, e voltou a cair. HARVARD NO BRASIL Além do companheiro Obama, virá ao Brasil em março a presidente de Harvard, a professora Drew Faust, que substituiu o economista Lawrence Summers, de atribulada memória. Ela passará por São Paulo e pelo Rio entre os dias 23 e 25. Faust tornou-se a primeira mulher a dirigir a universidade, fundada em 1672. Ela é historiadora, especializada no estudo da Guerra Civil, autora de pouco blá-blá-blá e muita pesquisa em cima de papéis velhos. GOLPE À VISTA Alguns sábios das operadoras de planos de saúde querem ressarcir o SUS pelo atendimento de sua clientela na rede pública compensando a Viúva com créditos em exames laboratoriais. Há anos o calote passa por baixo das mesas da Agência Nacional de Saúde e, segundo o Tribunal de Contas, entre 2003 e 2007 as operadoras já embolsaram R$ 2,6 bilhões. A proposta é curiosa. Seria um retorno ao escambo do tempo em que os índios trocavam pau-brasil por machadinhas. As operadoras cobram da choldra em reais e pagariam ao SUS com exames feitos por terceiros. Seria o caso de se contrapropor que a escumalha pagasse suas mensalidades com bananas, repolhos e latas vazias. MADAME NATASHA Madame Natasha cuida de evitar que o idioma português seja colocado em áreas de risco. Ela concedeu uma de suas bolsas de estudo ao doutor Marcio Pochmann, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o Ipea, pela seguinte pérola: "A imaterialidade do trabalho, mesmo nas fábricas, por efeito da automatização e das novas tecnologias de informação e comunicação, torna o exercício laboral mais intenso e extenso". Natasha acredita que ele ouviu dizer o seguinte: "Ganharás o pão com o suor do teu rosto". TORRE DE BABEL Na quinta-feira, Nova York oferecia um espetáculo para os americanos que combatem os imigrantes que trabalham sem a documentação necessária. Nas principais avenidas havia milhares de trabalhadores removendo uma camada de neve de um metro de altura. Podia-se atravessar 50 quarteirões sem ouvir uma palavra de inglês nas equipes que desobstruíam os caminhos. NO EGITO O BURACO É MAIS ACIMA Se o companheiro Obama conseguir se livrar do ditador egípcio Hosni Mubarak, terá tirado a meia sem descalçar o sapato. Ao contrário do que sucedia na Tunísia, o faraó é um militar e sua cleptocracia vive entre os cofres públicos e os quartéis. Se isso fosse pouco, os arquivos do aparelho policial de Mubarak guardam a lembrança da cooperação dos generais egípcios com a máquina de repressão montada no governo de George Bush. A papelada do WikiLeaks começou a abastecer a crise on-line. Em algum lugar, no Cairo, está o registro dos entendimentos que cimentaram a colaboração dos torturadores militares e policiais egípcios com a CIA. Em 1978, o presidente Jimmy Carter puxou o tapete do xá do Irã acreditando que no seu lugar entraria um governo moderado. Deu no que deu, e Ronald Reagan foi para a Casa Branca. Texto Anterior: Opinião: Lula, Dilma, Seinfeld e o fantasma de George Carlin Próximo Texto: Projeto de Dorothy é cenário de faroeste Índice | Comunicar Erros |
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