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ANÁLISE
Propaganda perde protagonismo para imprensa e internet
ESTRATÉGIA INICIAL
DOS CANDIDATOS NA TV FOI ENGOLIDA
PELA COBERTURA
DOS ESCÂNDALOS E
POR DEBATE SOBRE
ABORTO E RELIGIÃO
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NELSON DE SÁ
COLUNISTA DA FOLHA
A estratégia autônoma das
campanhas presidenciais
para o horário eleitoral, neste
ano, durou duas semanas.
Começou com a onipresença de Lula, vinculado nos
programas tanto a Dilma
Rousseff quanto a José Serra.
Em pouco tempo se evidenciou a ampla transferência de votos para a primeira,
e o jogo mudou. O tucano
passou a vincular a petista a
José Dirceu e ao mensalão.
A partir de setembro, as
duas campanhas foram levadas a reboque pela cobertura
dos escândalos, a primeira
procurando responder, a segunda buscando potencializar. A quebra do sigilo fiscal
da filha de Serra marcou a
mudança. E a resposta de Dilma veio por meio de Lula.
Mas foi limitado o efeito
desta primeira "bala de prata", com as pesquisas apontando alta da petista.
A segunda não demorou,
com o escândalo da Casa Civil, que facilitou a vinculação
com Dilma, em inserção tucana que a associava a Erenice Guerra e Dirceu.
Já era evidente que tanto
na cobertura como na propaganda a campanha passaria
ao largo de propostas de governo, temas econômicos
etc. O conflito passou a ser
aberto, entre tucanos e petistas, e caracterizado por choques dramáticos medidos em
pesquisas qualitativas.
De sua parte, correndo em
raia própria e com pouco
tempo de TV, Marina Silva
atravessou o primeiro mês de
propaganda sem sair do lugar. Até que a queda de Erenice, no dia 17 de setembro,
rompeu as defesas de Dilma,
e ela começou a cair nas pesquisas. E Marina a subir.
Entrou em cena, para além
dos escândalos, da cobertura
tradicional e do próprio horário eleitoral, o movimento
evangélico não identificado
em pesquisas quantitativas e
qualitativas, impulsionando
a candidata evangélica e trazendo à tona o temor de liberalização do aborto.
Em pouco tempo, Marina
ultrapassou o tucano em intenções de voto no Rio. E este
respondeu na TV com o pastor Silas Malafaia, que mudou de lado e passou a atacar
a ex-petista violentamente,
procurando vinculá-la ao
aborto e defendendo o voto
evangélico em Serra.
Mas era Dilma quem mais
perdia com o tema. E o aborto, que marcou o final do primeiro turno, avançou pelo
segundo, como prioridade
maior nos programas dos
dois candidatos que avançaram -e com a entrada em cena da Igreja Católica, buscando disputar a bandeira
com os evangélicos.
A pausa na artilharia tucana, após reportagem sobre
relatos de que Mônica Serra
teria feito aborto no Chile,
durou pouco. E ontem, encerrando a propaganda no
rádio, o próprio José Serra
voltou à carga, explorando a
"palavra de amor à vida" lançada pelo papa Bento 16 a
três dias da eleição.
Na campanha, o horário
eleitoral perdeu protagonismo, primeiro para a cobertura, depois para a religião,
com voz própria na internet.
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