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Trabalho do SNI era "rotina", diz general
Ministro do Exército de Sarney, Leônidas Gonçalves afirma que todo governo precisa de serviço de inteligência
Para um dos chefes do Centro de Informações do Exército na época, objetivo era ver se havia "risco à democracia"
DE SÃO PAULO
O chefe do SNI no governo
Sarney foi o general Ivan de
Souza Mendes (1922-2010),
morto em fevereiro último.
Em 2002, Mendes recebeu
a Folha em seu apartamento, no Rio. Indagado sobre os
segredos que poderia deter,
brincou: "O que tenho a dizer, você não vai se interessar
em publicar, pois já é conhecido. Mas o que você gostaria
de publicar, porque é inédito, ah, isso não posso dizer".
Chamando sua mulher à
sala como "testemunha",
Mendes contou ter queimado
todos os documentos que levou para o apartamento.
O então ministro do Exército, Leônidas Pires Gonçalves, disse que os trabalhos do
SNI eram "de rotina", e que
todo governo "do mundo"
necessita de um serviço de
inteligência para subsidiar
as decisões dos presidentes.
"O Sarney se valia, sim,
das informações do SNI. Mas
isso era a rotina, a prática,
não havia nada de irregular."
Ele afirmou não ter conhecimento específico sobre "alvos" determinados pelo SNI.
"Eu não tinha essas informações detalhadas. O chefe do
SNI despachava com o presidente", disse Gonçalves.
Chefe do CIE (Centro de Informações do Exército) por
um ano no governo Sarney, o
general reformado Sérgio
Augusto Coutinho, 78, disse
à Folha, em 2009, não se recordar de relatório de análise
assinado por ele em julho de
1989 e que tratou do MST.
Ele diz que o CIE produzia
"conhecimento que pudesse
auxiliar o comandante [do
Exército] a tomar decisões".
ORDEM DO COMANDANTE
Indagado sobre o grau de
interesse do governo acerca
do MST, o general disse não
se recordar. "Um serviço de
inteligência, agora estou falando em tese, se interessa
por tudo que possa instruir a
autoridade", disse. "Quem
estabelece o que quer saber é
o próprio comandante, não é
o serviço que inventa."
"Hoje eu vejo o MST, tenho
um entendimento pela imprensa, é um movimento
campesino revolucionário,
socialista, no socialismo
agrário", afirmou o general.
Outro chefe do CIE no governo Sarney, o general de
divisão Tamoyo Pereira das
Neves, disse no ano passado
que não comenta relatórios
que assinou na época.
"Eu estou afastado já há
alguns anos e eu não tenho a
intenção, assim, de conversar sobre esse assunto."
Falando em termos gerais
sobre "organizações subversivas", o general afirmou:
"Essa é uma preocupação
que eu acredito que sempre
existiu, de acompanhar todos os movimentos, não na
intenção de cerceá-los, mas
na intenção de prevenir. É esse o grande objetivo", disse.
"É acompanhar para ver se
aquilo podia resultar em alguma coisa que pudesse por
em risco a democracia. Esse
era o grande objetivo nosso",
completou o general.
(RV)
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