São Paulo, domingo, 31 de outubro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Com Lula em turno integral

Presidente tentou sair de cena na 2ª fase da campanha mas, com "risco de derrota" , voltou à linha de frente, cancelou agenda e dedicou mais tempo à sucessão

VALDO CRUZ
SIMONE IGLESIAS

DE BRASÍLIA

ANA FLOR
DE SÃO PAULO

O presidente Lula foi quase tão candidato quanto Dilma Rousseff no segundo turno. Ele praticamente deixou de lado sua agenda de trabalho e mergulhou na campanha depois da frustração de o PT não ter vencido a eleição no primeiro turno.
A dedicação integral foi uma decisão de Lula por conta do "risco de derrota" que chegou a rondar a campanha de Dilma nos dez dias pós-primeiro turno.
A vantagem de Dilma para o candidato tucano José Serra chegou a cair de 12 para 7 pontos na pesquisa do Datafolha de 8 de outubro, e a campanha da petista entrou na fase mais tensa, com cheiro de crise no ar.
Diante de uma equipe de Dilma ainda "atordoada", criticada pelos aliados por fazer um "comando imperial" da campanha, Lula interveio e alterou o planejamento do segundo turno.
Deslocou ministros e assessores para reforçar o time da petista, mandou explorar o tema da privatização da Petrobras e arquivou a ideia de "desintoxicar" a campanha de sua imagem, que previa poupá-lo na primeira fase do segundo turno.
A mudança de estratégia refletiu-se nas atividades oficiais do presidente. Apenas em 4 dos 19 dias úteis de outubro ele se dedicou exclusivamente à sua agenda de trabalho. Nos demais, cuidou apenas de eleição.
Além disso, deixou em "stand by" viagens internacionais e reuniões de governo e, mesmo dizendo no começo da campanha, em julho, que se dedicaria à eleição da ex-ministra "só nos fins de semana e depois do expediente", cancelou compromissos oficiais.
Dos quatro finais de semana do segundo turno, em três pediu votos para Dilma. Dos 28 dias da fase final, em 11 se dedicou à campanha dela.
Chegou a suspender sua agenda de trabalho para gravar programas de TV de Dilma ou viajar para comícios.
Em um deles, em Goiânia, discursou pedindo como presente de aniversário de 65 anos a eleição da petista.
No último programa de TV, disse que votar em Dilma era o mesmo que votar "um pouquinho" nele.

VOLTA, LULA
A estratégia de tirar Lula do ar nos primeiros dez dias de campanha foi considerada um "equívoco" pelo presidente e por aliados, principalmente governadores eleitos, chamados a reforçar a coordenação dilmista.
A avaliação inicial da equipe da candidata era que a overdose de Lula no primeiro turno, quando também apareceu em campanhas a governador, senador e deputado, exigia uma "desintoxicação" de sua imagem na TV.
A tática previa ainda passar a mensagem de uma Dilma com cara e ideias próprias. Daí surgiu a candidata mais "agressiva, mais ela mesma", vista no debate da TV Bandeirantes.
Essa fase, porém, coincidiu com o pior momento da campanha. Sua equipe demonstrava abatimento por não ter vencido no primeiro turno, e Dilma ainda estava presa em ter de explicar sua mudança de posição sobre a descriminalização do aborto.
Em seguida, veio a decisão do presidente. Ele voltaria a mergulhar na campanha, agora com mais intensidade.
Daí em diante, Lula partiu para o ataque e assumiu o discurso de que o eleitor não podia permitir a volta dos tucanos ao governo.
A ofensiva deu certo. Primeiro, Dilma estancou sua queda nas pesquisas. Voltou a subir levemente, e Serra ficou estacionado.

"DILMA ORIGINAL"
Segundo um assessor de Lula, contribuiu também o fato de Dilma ter assumido, no segundo turno, um estilo mais "firme e assertivo, mais próximo da Dilma original".
Isso, diz ele, foi fundamental para passar mais confiança ao eleitorado e evitar desmobilização da militância.
Esse assessor destaca, porém, que sem o mergulho de Lula na campanha Dilma estaria numa situação perigosa, com risco de derrota.
Afinal, mesmo tendo ao lado um presidente com avaliação positiva na casa de 80%, Dilma chega à reta final com uma vantagem na faixa dos dez pontos percentuais, bem menor do que a registrada pelo seu padrinho em 2002 e 2006 (28 e 22 pontos respectivamente).


Texto Anterior: Apesar do feriado, abstenção deve seguir índice de disputas anteriores
Próximo Texto: Raio-X: Dilma Rousseff, 62
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.