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Com Lula em turno integral
Presidente tentou sair de cena na 2ª fase da campanha mas, com "risco de derrota" , voltou à linha de frente, cancelou agenda e dedicou mais tempo à sucessão
VALDO CRUZ
SIMONE IGLESIAS
DE BRASÍLIA
ANA FLOR
DE SÃO PAULO
O presidente Lula foi quase tão candidato quanto Dilma Rousseff no segundo turno. Ele praticamente deixou
de lado sua agenda de trabalho e mergulhou na campanha depois da frustração de o
PT não ter vencido a eleição
no primeiro turno.
A dedicação integral foi
uma decisão de Lula por conta do "risco de derrota" que
chegou a rondar a campanha
de Dilma nos dez dias pós-primeiro turno.
A vantagem de Dilma para
o candidato tucano José Serra chegou a cair de 12 para 7
pontos na pesquisa do Datafolha de 8 de outubro, e a
campanha da petista entrou
na fase mais tensa, com cheiro de crise no ar.
Diante de uma equipe de
Dilma ainda "atordoada",
criticada pelos aliados por fazer um "comando imperial"
da campanha, Lula interveio
e alterou o planejamento do
segundo turno.
Deslocou ministros e assessores para reforçar o time
da petista, mandou explorar
o tema da privatização da Petrobras e arquivou a ideia de
"desintoxicar" a campanha
de sua imagem, que previa
poupá-lo na primeira fase do
segundo turno.
A mudança de estratégia
refletiu-se nas atividades oficiais do presidente. Apenas
em 4 dos 19 dias úteis de outubro ele se dedicou exclusivamente à sua agenda de trabalho. Nos demais, cuidou
apenas de eleição.
Além disso, deixou em
"stand by" viagens internacionais e reuniões de governo e, mesmo dizendo no começo da campanha, em julho, que se dedicaria à eleição da ex-ministra "só nos
fins de semana e depois do
expediente", cancelou compromissos oficiais.
Dos quatro finais de semana do segundo turno, em três
pediu votos para Dilma. Dos
28 dias da fase final, em 11 se
dedicou à campanha dela.
Chegou a suspender sua
agenda de trabalho para gravar programas de TV de Dilma ou viajar para comícios.
Em um deles, em Goiânia,
discursou pedindo como presente de aniversário de 65
anos a eleição da petista.
No último programa de
TV, disse que votar em Dilma
era o mesmo que votar "um
pouquinho" nele.
VOLTA, LULA
A estratégia de tirar Lula
do ar nos primeiros dez dias
de campanha foi considerada um "equívoco" pelo presidente e por aliados, principalmente governadores eleitos, chamados a reforçar a
coordenação dilmista.
A avaliação inicial da equipe da candidata era que a
overdose de Lula no primeiro
turno, quando também apareceu em campanhas a governador, senador e deputado, exigia uma "desintoxicação" de sua imagem na TV.
A tática previa ainda passar a mensagem de uma Dilma com cara e ideias próprias. Daí surgiu a candidata
mais "agressiva, mais ela
mesma", vista no debate da
TV Bandeirantes.
Essa fase, porém, coincidiu com o pior momento da
campanha. Sua equipe demonstrava abatimento por
não ter vencido no primeiro
turno, e Dilma ainda estava
presa em ter de explicar sua
mudança de posição sobre a
descriminalização do aborto.
Em seguida, veio a decisão
do presidente. Ele voltaria a
mergulhar na campanha,
agora com mais intensidade.
Daí em diante, Lula partiu
para o ataque e assumiu o
discurso de que o eleitor não
podia permitir a volta dos tucanos ao governo.
A ofensiva deu certo. Primeiro, Dilma estancou sua
queda nas pesquisas. Voltou
a subir levemente, e Serra ficou estacionado.
"DILMA ORIGINAL"
Segundo um assessor de
Lula, contribuiu também o
fato de Dilma ter assumido,
no segundo turno, um estilo
mais "firme e assertivo, mais
próximo da Dilma original".
Isso, diz ele, foi fundamental para passar mais confiança ao eleitorado e evitar desmobilização da militância.
Esse assessor destaca, porém, que sem o mergulho de
Lula na campanha Dilma estaria numa situação perigosa, com risco de derrota.
Afinal, mesmo tendo ao lado um presidente com avaliação positiva na casa de
80%, Dilma chega à reta final
com uma vantagem na faixa
dos dez pontos percentuais,
bem menor do que a registrada pelo seu padrinho em
2002 e 2006 (28 e 22 pontos
respectivamente).
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