São Paulo, sábado, 08 de junho de 2002

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A globalização ameaçada

O sociólogo Octavio Ianni escreve sobre os perigos e obstáculos com que se defronta o sistema capitalista mundial

O Relatório Lugano
Susan George
Tradução e notas de Afonso Teixeira Filho
Apresentação de Laymert Garcia dos Santos
Boitempo (Tel. 0/xx/11/3872-6869)
224 págs., R$ 36,00

OCTAVIO IANNI

A supremacia do neoliberalismo está sendo questionada, em todo o mundo. São poucos os que ainda acreditam na "nova ordem econômica mundial", "mundo sem fronteiras", "aldeia global", "nova economia" ou "fim da história".
Depois da euforia provocada pela queda do Muro de Berlim, desagregação do bloco soviético e transformação do mundo socialista em uma vasta fronteira de expansão do capitalismo, logo muitos começaram a dar-se conta de que os "impasses", "obstáculos", "perigos" ou "ameaças" não só continuaram presentes como se revelaram crescentes.
Logo muitos começaram a reconhecer que o "sistema de mercado", o "sistema capitalista liberal" ou o "sistema liberal globalizado", com as suas "fortalezas norte-americanas e européias", estavam, estão e continuam sujeitos a comoções, crises, anomalias, desastres.
Um sistema econômico mundial que parecia talhado para o pleno êxito e a tranquila continuidade por anos, décadas e séculos, logo se revela problemático, vulnerável, sujeito a sérios abalos e a irrupções "irracionais". As dimensões sociais, políticas e culturais da economia de mercado, do sistema liberal globalizado, logo se revelam presentes, prementes e inexoráveis, explodindo em reivindicações, protestos, greves, revoltas. Simultaneamente, florescem guerras e revoluções, narcotráficos e terrorismos, desastres e fundamentalismos; compreendendo povos e nações, culturas e religiões. Em poucas décadas, dissolvem-se as ilusões da nova ordem econômica mundial, mundo sem fronteiras, aldeia global, nova economia, fim da história.
Esse o clima em que se multiplicam os estudos, análises e debates sobre o "nosso sistema econômico", o "sistema de mercado competitivo", o "sistema capitalista liberal", nos quais se engajam pensadores, jornalistas, cientistas sociais, indivíduos e coletividades, mais ou menos solidários com as linhas mestras da nova ordem econômica, a visão sistêmica da economia mundial, as diretrizes do neoliberalismo. São estudos, análises e debates nos quais se questionam a teoria, a prática e a ideologia do neoliberalismo; em geral no intuito de aprimorar o seu funcionamento, reduzir o seu potencial crítico, redefinir suas implicações sociais. Em diferentes linguagens, são trabalhos nos quais os seus autores revelam-se empenhados em aprimorar o status quo, isto é, o sistema de mercado ou o sistema capitalista liberal, tomando-o como se fora a única ou a melhor forma de organização e funcionamento da economia e sociedade.
Esse o clima em que se situa o atualíssimo livro de Susan George, intitulado "O Relatório Lugano". Trata-se de um estudo simultaneamente rigoroso e provocativo, objetivo e imaginoso, no qual está em causa o diagnóstico sobre as ameaças, perigos e obstáculos com os quais se defrontam o "sistema capitalista liberal", o "sistema liberal globalizado", o "nosso sistema econômico", com suas "fortalezas norte-americanas e européias".



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