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Literatura do bem-estar

Escritor e psiquiatra Augusto Cury atrai milhões de leitores interessados em sua obra, que oferece o controle das emoções, mas também desperta desconfiança da comunidade científica

Silva Junior/ Folhapress
O escritor e psiquiatra Augusto Cury, na abertura da Academia da Inteligência, em Ribeirão
O escritor e psiquiatra Augusto Cury, na abertura da Academia da Inteligência, em Ribeirão

ELIDA OLIVEIRA
DE RIBEIRÃO PRETO

No segundo ano da faculdade de medicina, em São José do Rio Preto (SP), Augusto Jorge Cury, 53, entrou em tristeza profunda.

O hoje escritor e psicanalista, que já vendeu cerca de 16,5 milhões de livros no país falando sobre superação e controle de sentimentos, afirma que aquela "dor emocional" foi o estopim para se tornar quem é atualmente.

Ele descreve aquela depressão como um momento de "miserabilidade do ser". Desde então, foram 25 livros lançados em 60 países, cinco compilações e uma teoria inédita -conforme o médico, a inteligência multifocal.

Para o autor, o mundo está no apogeu do desenvolvimento científico e tecnológico, mas atingiu esse nível sem que as pessoas tenham acompanhado a evolução porque não controlam suas emoções.

O resultado é a proliferação de transtornos mentais em todo o mundo, disse Cury.

PROTEGER EMOÇÕES

Para embasar seu raciocínio, o autor cita percentuais de pesquisas internacionais sobre saúde mental.

Entre uma frase e outra dita à Folha, incluiu dados como "70% a 80% dos jovens apresentam sintomas de timidez ou insegurança".

Morador de Colina, Cury adotou recentemente Ribeirão, onde tem um apartamento, e inaugurou a Academia da Inteligência. Por ela, tem se dividido entre as duas cidades e as muitas viagens.

Ele dá conferências em diversos países -acabou de voltar de um ciclo de palestras na Espanha e Romênia.

Para manter o leitor ou ouvinte atento, cita muitas metáforas -como "a vida é bela e breve como gotas de orvalho que num instante aparecem e logo se dissipam"- e usa técnicas de oratória.

Segundo ele, a linguagem simples e com metáforas serve para atingir o público e perpetuar suas ideias.

Um dos seus livros de maior sucesso é "O Vendedor de Sonhos". Mesmo com os resultados de um best-seller, é categórico: "Não escrevo para fazer sucesso".

Para ele, seus romances trazem ferramentas para os leitores terem "consciência crítica" de si. "O livro é uma oportunidade de ouro para que as pessoas entendam que a sociedade está adoecendo."

O primeiro livro de Cury, "Inteligência Multifocal", publicado em 1998, foi resultado de 17 anos de pesquisa.

Na obra, para explicar sua teoria, Cury descreve o funcionamento da mente como se a memória estivesse fundamentada em "janelas": as "killer" (assassinas), onde estão os traumas, as lights (leves), onde estão as boas lembranças, e as neutras, com informações do dia a dia.

O foco da teoria, diz Cury, é gerenciar as janelas "killer" para ter o autocontrole.

SEM PARES

Embora Cury diga, "com muita humildade", que é "um dos poucos autores da atualidade com mestrado e doutorado em sua própria teoria", a Associação Brasileira de Psiquiatria afirma que a inteligência multifocal não é oficialmente reconhecida.

Para o professor de psiquiatria e diretor do Laboratório de Neurociências da USP (Universidade de São Paulo) na capital paulista, Wagner Gattaz, "publicações de teorias em livros não são publicações científicas".

No portal da Biblioteca Nacional do Congresso Americano, referência da área, não há citações nem ao nome nem aos estudos de Cury.

Sobre os críticos em geral, ele recusa o rótulo "autoajuda" e afirma: "Eles não leram profundamente minha obra".

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