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Documentário mostra promotor do passado

"Texto & Testa" expõe um Ministério Público sem estrutura, mas combativo na ditadura

JULIANA COISSI
DE RIBEIRÃO PRETO

Eles se deslocavam de ônibus para as comarcas da região e trabalhavam em uma sala emprestada do Fórum, sem funcionários.

Mas as dificuldades não impediam os promotores Annibal Augusto Gama, Henrique Serraglia e Hilton Maurício de Araújo de representar a população diante da Justiça e até denunciar torturas da ditadura militar.

Eles são o retrato do Ministério Público na região de Ribeirão Preto dos anos 60, 70 e parte dos 80 mostrado no documentário "Texto & Testa", de autoria do também promotor Marcelo Goulart, com o estudante de cinema Luís Marcelo Pedroso Goulart, seu filho. Leia, a seguir, trechos da entrevista do promotor sobre a obra.

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Folha - Como surgiu a ideia?
Marcelo Goulart - Foi uma iniciativa minha, de cinco anos atrás. Verifiquei a necessidade de se fazerem esses registros históricos a respeito de experientes promotores que marcaram época, como exemplo para as novas gerações e para que essa história não se perdesse no tempo.

Como era esse período?
Era difícil. O promotor era só, sem funcionário, sem equipamento, faltava folha. Naquela época os promotores nem carro tinham, se deslocavam de ônibus. Os novos promotores precisam conhecer essa história.

Por que os três escolhidos?
Eu conheço os três de muitos anos. Eles participam ainda dos grupos de estudo do Ministério Público. Têm uma visão crítica e atualizada, conseguem enxergar não só o que de bom se construiu, mas os problemas existentes. E atuaram em períodos difíceis, como o da ditadura.

Que dificuldades relatam?
Foi um trabalho de resistência, de defesa dos valores democráticos. E com pressão. Houve um incidente de repercussão nacional, de um caso de tortura no 2º DP que o Gama e o juiz flagraram, de um preso comum. Houve a prisão em flagrante dos policiais que estavam torturando, isso em plena ditadura militar. O Erasmo Dias [coronel conhecido por comandar a invasão da PUC, durante a ditadura] saiu de São Paulo, chegou à noite aqui, maluco.

Que outros exemplos?
O Hilton foi determinante para a construção do prédio próprio do ministério. Foi o primeiro depois do da capital.

Como era ser promotor antes da Constituição de 1988?
Relatam sobretudo a dificuldade de estrutura. A partir dos anos 80, o ministério começa a atuar nos interesses difusos: meio ambiente, infância. Antes, eram basicamente promotores na área criminal -no cível, mais na área da família. Na época, exerciam a área trabalhista. Defendiam trabalhador que não recebeu férias, por exemplo.

Como é o documentário?
São entrevistas em casa, feitas em 2010 e 2011. Conseguimos poucas imagens de época e jornais.

E porque o título?
É uma expressão que o Serraglia utiliza e que pegou na geração deles. O que o promotor fazia: usava o texto da lei e a testa, ou seja, a sua inteligência, apenas. Não tinha recursos como biblioteca ou máquina de escrever.

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