Beleza descoberta

	Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto
	General Osório, a rua da Estação, na enchente de março de 1927

Antes cobertas por placas de propaganda ou de nomes de lojas, fachadas de imóveis históricos do centro de Ribeirão começam a reaparecer, revelando prédios construídos entre o fim do século 19 e início do século passado, remanescentes principalmente do período áureo do café.

Essa descoberta -seja no sentido da retirada das fachadas publicitárias ou em relação ao reencontro de parte da história de Ribeirão- vem sendo possibilitada pela lei Cidade Limpa, que começou a valer no último dia 11.

A legislação limita o tamanho das placas nas fachadas do comércio, o que obrigou os lojistas a retirarem as estruturas que acabavam escondendo a arquitetura desses imóveis centenários.

Com a remoção das placas, quase sempre o que se vê ainda são fachadas descuidadas, com fiação aparente, sujeira e pintura envelhecida.

Mesmo assim, a descoberta já é suficiente para causar surpresa a pedestres que passam diante desses imóveis.

"Passo por aqui todo os dias, é bonito ver esses prédios históricos reaparecendo aos poucos. É uma parte da nossa história que merece mais cuidado", disse a esteticista Juliana Francisco, 48, anteontem, enquanto passava pela rua General Osório.

RUA DA ESTAÇÃO

A via é uma das que tiveram grande importância na Ribeirão Preto do café. Conhecida na época como rua da Estação, era o principal acesso à estação ferroviária que havia na atual Jerônimo Gonçalves, onde hoje está a UBDS (Unidade Básica Distrital de Saúde) Central.

Na General Osório, um dos imóveis que chamam a atenção é um sobrado de dois andares, pintado de azul-celeste, que guarda referências das construções antigas -muitas portas e janelas, além da fachada trabalhada com adereços detalhistas na decoração.

Esse imóvel, segundo uma fotografia encontrada no acervo do Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto, foi sede do Hotel Modelo.

A foto, feita em 27 de março de 1927, mostra a rua da Estação alagada pelas águas do ribeirão Preto, em um quase congestionamento formado por carros e carroças.

A historiadora Tânia Registro, do Arquivo Público e Histórico, diz que o Hotel Modelo foi um dos muitos existentes na região próxima da antiga estação ferroviária.

Hotéis desse mesmo porte recebiam hóspedes como comerciantes e viajantes. A rua da Estação, segundo ela, se caracterizava como um verdadeiro corredor comercial de Ribeirão, reunindo lojas, bancos e armazéns.

JOSÉ BONIFÁCIO

Outro importante corredor dessa mesma época foi a rua José Bonifácio, onde também há fachadas históricas sendo descobertas. Nessa via, alguns imóveis já apresentam aspecto bem melhor, fruto do projeto de revitalização.

Pela proximidade que tinha com a estação ferroviária, a José Bonifácio se tornou "quase a extensão da estrada de ferro", diz o pesquisador Eder Donizeti da Silva, no livro "A História Contada Através da Arquitetura de Uma Rua", da coleção Identidades Culturais, da Secretaria da Cultura de Ribeirão.

O arquiteto urbanista Cláudio Bauso, do Conppac (Conselho de Preservação do Patrimônio Artístico e Cultural de Ribeirão Preto), diz que trazer à luz prédios históricos que estavam esquecidos é positivo, mas não é suficiente para a sua preservação.

"Não basta tirar elementos que escondiam as fachadas, tem que ser feito um trabalho de resgate da memória, de educação patrimonial."

Um inventário que está em andamento na cidade, mapeando todos os imóveis históricos, não apenas no quadrilátero central, deve servir como base para a disseminação desse resgate, diz ele.

"Estamos dando um novo modelo para as pessoas, mas elas não sabem de onde vêm. Já se perdeu a história, a memória e a identidade. É isso que temos de resgatar."