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PERFIL NELSON BIASOLI
Brasileiro com muito orgulho
Aposentado de Tambaú criou, em 1949, grito de guerra que virou hit da torcida brasileira; frustrado com a eliminação do Brasil na Copa, diz que, ainda assim, não reduziu seu patriotismo
ARARIPE CASTILHO
ENVIADO ESPECIAL A TAMBAÚ
Do meio de campo, o volante Felipe Melo enfia uma
bola certeira para Robinho,
que bate colocado, de primeira, na entrada da grande
área. Gol do Brasil contra a
Holanda aos 10min de jogo.
Parecia o cenário perfeito
para a torcida entoar o famoso grito de "eu sou brasileiro,
com muito orgulho, com
muito amor." Mas o segundo
tempo começou e a laranja
mecânica azedou a sexta-feira, silenciando o Brasil.
"A gente sempre espera
ganhar, mas o que é que se
pode fazer? Para mim, faltou
o técnico ter levado o Ronaldo Fenômeno e o Roberto
Carlos. Eles teriam cabeça no
lugar", lamenta o aposentado Nelson Biasoli, 79.
E ele não é apenas mais
um dos milhões de torcedores que se decepcionaram na
sexta. É, justamente, o autor
do grito de "eu sou brasileiro,
com muito orgulho...".
A eliminação da Copa do
Mundo frustrou, mas, claro,
não o suficiente para enfraquecer o patriotismo de Biasoli. "De jeito nenhum, eu tenho muito orgulho do meu
país. O povo brasileiro tem
muito do que se orgulhar."
A IDEIA
O verso curto que é hit nas
arquibancadas -quando o
Brasil ganha- foi criado em
1949, em Ribeirão, segundo o
ex-professor do extinto Colégio Progresso, que ficava na
avenida Nove de Julho.
Ribeirão participava das
olimpíadas estudantis e o
confronto final seria contra
alunos alemães. A rivalidade
foi a inspiração. "Tínhamos
paúra dos alemães naquela
época por causa da [Segunda] Guerra."
Ele conta que, ao ser procurado por outros professores para fazer um grito de
guerra, respondeu "já está
pronto" e começou a cantar.
Apesar de a ideia ter surgido em 1949, a "prova" da autoria data de 1979. É um documento escrito a máquina e
com carimbos da censura liberando para divulgação.
O CARA
Biasoli nasceu em Tambaú, mudou-se para Ribeirão
na adolescência, onde ficou
por cerca de 15 anos. Depois,
voltou à cidade natal -vive
lá até hoje num sobrado na
rua com o nome de seu pai,
Balduino Biasoli.
É conhecido por ser um recordista em composições de
hinos para cidades. Já foram
pelo menos 120. Diz ele que o
Guinnes Book já vasculha o
mundo para confirmar se há
alguém que tenha feito mais
hinos de cidades.
Muitos foram feitos para
cidades da região, como Serrana e Santa Rosa de Viterbo.
Outra coleção numerosa
do compositor é a de títulos
de cidadão. São exatamente
cem títulos, segundo ele.
Com tantas obras e histórias para contar, o autor é um
homem inquieto. Com os cabelos brancos e um pouco
desalinhados, Biasoli não
parou durante toda a entrevista à Folha.
Levantava-se, mostrava
objetos, tocava CDs no aparelho da sala, subia as escadas
para exibir os troféus que ganhou como compositor, folheava documentos.
Apesar da inquietação, o
compositor diz ter uma rotina tranquila: acorda cedo,
passa no escritório da mineradora da família, onde não
faz nada, depois sai dar uma
volta para encontrar amigos
e "conversar".
"Não há tropeiro que não
fale de tropa, carreiro que
não fale de boi, menina que
não fale de namorado e velho
que não fale o que foi."
A MISSÃO
Tambaú tem duas características marcantes: as chaminés das cerâmicas que ditam
a economia local e a devoção
ao padre Donizetti Tavares
de Lima (1882-1961), a quem
são atribuídos milagres -um
processo de beatificação corre no Vaticano.
Biasoli se diz um "devoto"
do padre. Por isso, compõe
também letras religiosas. A
mais famosa ele fez na primeira visita de João Paulo 2º
ao país, em 1980. Chama-se
"A Bênção, João de Deus".
Criar canções é uma "missão" que o autor diz ter recebido do padre Donizetti.
Quando tinha "uns 50 anos
mais ou menos" ficou paralisado após tomar uma vacina
antirrábica.
"Estava sozinho num
quarto da Santa Casa de Ribeirão quando o ectoplasma
dele [padre] me apareceu e
disse que eu tinha muita coisa a fazer e que eu escreveria
o hino do seu centenário de
ordenação em 2008."
Ele não cobra pelas composições e pede para que os
valores sejam doados.
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