Ribeirão Preto, Domingo, 04 de Julho de 2010

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PERFIL NELSON BIASOLI

Brasileiro com muito orgulho

Aposentado de Tambaú criou, em 1949, grito de guerra que virou hit da torcida brasileira; frustrado com a eliminação do Brasil na Copa, diz que, ainda assim, não reduziu seu patriotismo

ARARIPE CASTILHO
ENVIADO ESPECIAL A TAMBAÚ

Do meio de campo, o volante Felipe Melo enfia uma bola certeira para Robinho, que bate colocado, de primeira, na entrada da grande área. Gol do Brasil contra a Holanda aos 10min de jogo.
Parecia o cenário perfeito para a torcida entoar o famoso grito de "eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor." Mas o segundo tempo começou e a laranja mecânica azedou a sexta-feira, silenciando o Brasil.
"A gente sempre espera ganhar, mas o que é que se pode fazer? Para mim, faltou o técnico ter levado o Ronaldo Fenômeno e o Roberto Carlos. Eles teriam cabeça no lugar", lamenta o aposentado Nelson Biasoli, 79.
E ele não é apenas mais um dos milhões de torcedores que se decepcionaram na sexta. É, justamente, o autor do grito de "eu sou brasileiro, com muito orgulho...".
A eliminação da Copa do Mundo frustrou, mas, claro, não o suficiente para enfraquecer o patriotismo de Biasoli. "De jeito nenhum, eu tenho muito orgulho do meu país. O povo brasileiro tem muito do que se orgulhar."

A IDEIA
O verso curto que é hit nas arquibancadas -quando o Brasil ganha- foi criado em 1949, em Ribeirão, segundo o ex-professor do extinto Colégio Progresso, que ficava na avenida Nove de Julho.
Ribeirão participava das olimpíadas estudantis e o confronto final seria contra alunos alemães. A rivalidade foi a inspiração. "Tínhamos paúra dos alemães naquela época por causa da [Segunda] Guerra."
Ele conta que, ao ser procurado por outros professores para fazer um grito de guerra, respondeu "já está pronto" e começou a cantar.
Apesar de a ideia ter surgido em 1949, a "prova" da autoria data de 1979. É um documento escrito a máquina e com carimbos da censura liberando para divulgação.

O CARA
Biasoli nasceu em Tambaú, mudou-se para Ribeirão na adolescência, onde ficou por cerca de 15 anos. Depois, voltou à cidade natal -vive lá até hoje num sobrado na rua com o nome de seu pai, Balduino Biasoli.
É conhecido por ser um recordista em composições de hinos para cidades. Já foram pelo menos 120. Diz ele que o Guinnes Book já vasculha o mundo para confirmar se há alguém que tenha feito mais hinos de cidades.
Muitos foram feitos para cidades da região, como Serrana e Santa Rosa de Viterbo.
Outra coleção numerosa do compositor é a de títulos de cidadão. São exatamente cem títulos, segundo ele.
Com tantas obras e histórias para contar, o autor é um homem inquieto. Com os cabelos brancos e um pouco desalinhados, Biasoli não parou durante toda a entrevista à Folha.
Levantava-se, mostrava objetos, tocava CDs no aparelho da sala, subia as escadas para exibir os troféus que ganhou como compositor, folheava documentos.
Apesar da inquietação, o compositor diz ter uma rotina tranquila: acorda cedo, passa no escritório da mineradora da família, onde não faz nada, depois sai dar uma volta para encontrar amigos e "conversar".
"Não há tropeiro que não fale de tropa, carreiro que não fale de boi, menina que não fale de namorado e velho que não fale o que foi."

A MISSÃO
Tambaú tem duas características marcantes: as chaminés das cerâmicas que ditam a economia local e a devoção ao padre Donizetti Tavares de Lima (1882-1961), a quem são atribuídos milagres -um processo de beatificação corre no Vaticano.
Biasoli se diz um "devoto" do padre. Por isso, compõe também letras religiosas. A mais famosa ele fez na primeira visita de João Paulo 2º ao país, em 1980. Chama-se "A Bênção, João de Deus".
Criar canções é uma "missão" que o autor diz ter recebido do padre Donizetti. Quando tinha "uns 50 anos mais ou menos" ficou paralisado após tomar uma vacina antirrábica.
"Estava sozinho num quarto da Santa Casa de Ribeirão quando o ectoplasma dele [padre] me apareceu e disse que eu tinha muita coisa a fazer e que eu escreveria o hino do seu centenário de ordenação em 2008."
Ele não cobra pelas composições e pede para que os valores sejam doados.


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