Ribeirão Preto, Domingo, 4 de outubro de 1998

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ABANDONO
Construções paralisadas na região central de Ribeirão Preto se transformaram em abrigos para famílias
Sem-teto ocupam prédios abandonados

free-lance para a Folha

Os prédios abandonados de Ribeirão Preto estão sendo ocupados por sem-teto que invadem a construção e transformam os apartamentos, geralmente os que ficam no 1º andar, em abrigo.
Um dos prédios da Encol, que fica na rua Amador Bueno, próximo à Câmara, está sendo ocupado há mais de um ano pelo jardineiro Marcos Aurélio Rodrigues, 28, que transformou um apartamento do primeiro andar em sua casa.
Rodrigues, que veio de Diquié (BA), afirmou que prefere morar no prédio abandonado do que em favelas na periferia da cidade.
"Sou uma das poucas pessoas pobres da cidade que tem o privilégio de morar no centro sem ter que pagar aluguel. Além disso, tenho um prédio inteiro só para mim."
Atualmente, o jardineiro está morando sozinho no prédio, que tem oito andares, mas garante que há três meses havia várias famílias vivendo no local.
"Os apartamentos do primeiro ao quinto andar estavam lotados. A polícia veio aqui e colocou todo mundo para fora, mas depois eu voltei", disse Rodrigues.
De acordo com o jardineiro, sempre que acontece um roubo na região do centro, a Polícia Militar passa no local para fazer uma revista. "Sirvo de guia para que os policiais possam subir. À noite, é muito escuro lá dentro."
A 500 metros do prédio onde o jardineiro mora, na rua Campos Salles, há outros dois prédios abandonados da Encol, que também foram ocupados sem-teto.
Em um prédio de dez andares moram duas famílias, sendo um casal no primeiro andar e outro casal e uma criança no quarto andar.
"Não é bom morar aqui, mas é melhor do que morar em banco de praça", afirmou Elaine Cristina Modernês, 23, que mora no primeiro andar há quatro meses.
De acordo com Elaine, a maior dificuldade que enfrenta no prédio é a falta de energia elétrica.
"Quando vou pedir comida nas casas, aproveito e peço também uma vela para usar à noite. Tenho medo do escuro", disse ela.
O setor de comunicação social da Polícia Militar informou que só pode retirar os sem-teto dos prédios a partir de um pedido feito pela empresa. Segundo a PM, até agora não foi feito comunicado.
O secretário de Obras de Ribeirão Preto, Marcos Augusto Spínola, afirmou que a prefeitura está removendo equipamentos das construção abandonadas da Encol.
Todos os escritórios da empresa foram fechados em Ribeirão Preto, São Paulo e Brasília.



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