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Desigualdade social infla presídio, diz juiz
Para José Roberto Liberal, pobreza acentua a criminalidade; falha nos cartórios gera atraso para progressão das penas
Juiz de Araraquara diz que na cidade há controle para que, um mês antes de o preso atingir o prazo, seja pedido o benefício
DA FOLHA RIBEIRÃO
A superlotação dos presídios
é resultado da desigualdade social, que agrava a criminalidade. Essa é a principal razão para
o alto volume de presos, na opinião do juiz de execuções criminais de Araraquara, José Roberto Bernardi Liberal. Leia a
seguir trechos da entrevista.
FOLHA - Qual a principal razão para
a superlotação dos presídios?
JOSÉ ROBERTO LIBERAL - É a nossa
condição social, a situação do
país. Agora, com a crise, temos
visto que aumentaram os crimes. Além disso, teria de ser
feito um trabalho de recuperação do preso, de trabalhar no
presídio, de estudar. Nos CRs, é
oferecido, mas nas penitenciárias, nem sempre. Estudo, sim,
mas trabalho, não.
FOLHA - A OAB diz que a demora
em conceder progressão de pena
ocorre pela situação dos cartórios.
LIBERAL - Sim, sem dúvida, falta
estrutura, funcionários, um sistema informatizado. Porque
hoje temos um modelo em que
todos os processos são impressos. O Tribunal de Justiça está
trabalhando para informatizar
os processos.
FOLHA - Como é em Araraquara?
LIBERAL - Aqui, por exemplo, temos de 15 a 18 funcionários. Em
que pese não ser número compatível, não temos processo em
atraso. Conseguimos estruturar um sistema com a participação dos funcionários em que
fazemos um controle pelo computador para que, um mês antes de o preso atingir o lapso
temporal, peçamos o benefício.
Ajuda muito a desafogar a penitenciária, além de transmitir ao
preso a segurança de que alguém está olhando para ele,
além do advogado.
FOLHA - Existe uma crítica de que
há uma cultura punitiva por parte
do Judiciário, que não aplica muito
as penas alternativas. O que o senhor acha?
LIBERAL - Não concordo, ao
contrário. Se observar, aqui temos uns mil condenados que
têm pena restritiva de direito
que não foram para a cadeia, foi
prestação de serviço, pena pecuniária. Até porque ir para a
prisão é por um ato muito grave
ou é uma prática reiterada.
FOLHA - Qual a alternativa?
LIBERAL - Aparelhar adequadamente as varas de execuções criminais. Também é preciso construir,
mas o Estado parece que está trabalhando para construir mais unidades. Mas o problema está na base,
que é a desigualdade social.
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