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Crescem as internações por doença respiratória na região
Ribeirão e mais duas regionais vão na contramão do Estado, que registrou queda
Especialistas apontam que a queima da palha da cana-de-açúcar, o tempo mais seco e quente e o excesso de carros agravam doenças
JULIANA COISSI
DA FOLHA RIBEIRÃO
Na contramão do Estado, a
regional de Saúde de Ribeirão
Preto, polo canavieiro, foi uma
das três regiões em todo o Estado que registrou aumento do
número de pessoas internadas
por causa de doenças respiratórias nos últimos quatro anos.
É o que aponta levantamento
feito pela Folha no Datasus,
sistema de informações do Ministério da Saúde, na comparação entre 2005 e 2008. Especialistas apontam a ocorrência
das queimadas de cana como
uma das causas do agravamento das doenças respiratórias.
As internações também aumentaram em Presidente Prudente e Piracicaba, outras regiões do Estado produtoras de
cana onde ainda são comuns as
queimadas para facilitar a colheita da matéria-prima do
açúcar e álcool.
No DRS (Departamento Regional de Saúde) de Ribeirão,
8.700 pessoas foram internadas por problemas respiratórios no ano passado, contra
8.066 internações em 2005
-um aumento de 7,8%.
A líder de crescimento no
Estado é a região de Presidente
Prudente -8.154 internações
no ano passado, uma alta de
16%. A regional de Piracicaba
empata com Ribeirão.
Em todo o Estado, o total de
pacientes internados registrou
queda de 7,7% -no ano passado, 231.552 foram hospitalizadas (veja quadro).
Em Ribeirão, de 30% a 40%
das internações em hospitais
são casos de pneumonia e
bronquite asmática, doenças
influenciadas diretamente pela
poluição, segundo o chefe da
divisão médica da Secretaria da
Saúde do município, Nélio Rezende Cardoso.
Na opinião do médico, além
dos efeitos nocivos que as queimadas de cana provocam na atmosfera, a piora do ar na região
resulta de um desmatamento
agressivo nos últimos anos e do
excesso de veículos nas ruas.
Coordenador do Laboratório
de Poluição Atmosférica da
USP de São Paulo, o patologista
Paulo Saldiva afirma que a cana-de-açúcar pode ter uma relação direta e indireta com o
aumento de internações.
Segundo ele, é possível haver
uma associação com regiões
que enfrentaram mudanças
climáticas, mais quentes e secas, com forte ritmo de produção sem controle das emissões
de gases poluentes. "Provamos
com estudos em Piracicaba e
Araraquara que há relação entre o aumento de internações e
os meses de queima da cana."
Indiretamente, disse Saldiva,
regiões que passaram a ser
atrativas economicamente, por
causa da cana, por exemplo,
atraem mais pessoas para o entorno -em geral, de classes sociais mais carentes e mais vulneráveis a doenças.
O estudo em Araraquara, entre 2003 e 2004, detectou um
aumento de aproximadamente
50% nos casos de internações
em prontos-socorros por asma
e hipertensão arterial durante
o período da queima da cana
-de abril a novembro.
Na opinião do pneumologista Marcos Abdo Arbex, autor
do estudo, a alta das internações nas três regionais pode ter
múltiplas causas. É preciso
avaliar, nos dados, quais são as
doenças mais incidentes, a faixa etária e se ocorreram alterações climáticas, entre outros.
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