Ribeirão Preto, Domingo, 09 de Maio de 2010

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De presente, mãe espera filha ser deportada

A cozinheira Maria Aparecida, de Franca, aguarda chegada da filha Fabiana Barbosa, presa por tráfico na África do Sul

Fabiana conseguiu a liberdade e aguarda desde o dia 27 de abril pela deportação da África do Sul para o Brasil

HÉLIA ARAUJO
DA FOLHA RIBEIRÃO

A cozinheira Maria Aparecida da Silva, 49, espera há quatro anos e meio pelo mesmo presente no Dia das Mães: a volta da primogênita Fabiana da Silva Barbosa, 30, presa por tráfico de drogas na África do Sul.
Hoje a esperança está mais forte do que nunca, já que a filha conseguiu a liberdade e aguarda, desde o dia 27 de abril, pela deportação para o Brasil.
"Ela me prometeu que viria para este Dia das Mães. Estou muito ansiosa e preocupada porque desde que foi libertada ela não entrou mais em contato comigo", disse a cozinheira.
Durante todo o tempo em que esteve presa, Fabiana só podia falar com a família em telefonemas de dois minutos aos domingos. Nem toda semana ela conseguia fazer as ligações.
"Não dava tempo de falar quase nada. Ela só perguntava como todos nós estávamos e falava que sentia saudades. Então falava com as crianças e depois desligava", disse. As crianças com quem Fabiana falava nos telefonemas são os três filhos dela, que moram em Franca. O mais velho, Nicolas, tinha cinco anos quando ela foi presa e mora com os avós paternos.
Jenifer, que na época da prisão tinha quatro anos, foi criada por Maria Aparecida, assim como a caçula Kimberly Victória, hoje com quatro anos, de quem Fabiana estava grávida de dois meses quando foi presa.
"A Kimberly me chama de mãe. Já expliquei que a mãe de verdade dela vai chegar daqui uns dias e vai ficar triste se não for chamada assim. Mas no fundo entendo, porque eu acabei fazendo esse papel."
A menina chegou em Franca com cinco meses de idade, depois de muitas ameaças feitas por autoridades africanas de que a criança seria entregue para adoção naquele país.
Kimberly nasceu em um presídio de Johannesburgo, na África, onde permaneceu com a mãe numa cela lotada até que a menina fosse repatriada.
"Sofri muito nessa época porque minha neta poderia ser doada na África e eu nada poderia fazer. Havia muitos casais interessados nela, por ser branca e brasileira", conta.
A criança só foi repatriada depois da interferência do Ministério das Relações Exteriores e da ajuda de voluntários brasileiros na África.
Maria Aparecida ainda teve outros momentos de sofrimento durante esses quatro anos e meio, mas o pior deles foi quando soube que Fabiana estava com câncer de mama.
"Quando a Fabiana saiu de casa, no dia 20 de outubro de 2005, era um mulherão, tinha cabelos compridos e usava manequim 48. Ela vai chegar aqui usando número 36 e com o cabelo bem curtinho. Tenho medo de não reconhecê-la mais."


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